Skip to main content
Ouro e Diamantes da Chapada

A rica Chapada dos diamantes e do ouro!

A história da Chapada Diamantina está estritamente vinculada à exploração mineral. Antes de se tornar a Chapada dos diamantes, esta bucólica região foi desbravada e inicialmente povoada em função do ouro. E o seu principal entreposto comercial foi o atemporal município de Rio de Contas.

O ciclo de ouro da Chapada durou 100 anos. No início, entretanto, o ouro baiano foi renegado. As explorações foram proibidas pela coroa portuguesa, em função da restritiva política mineral da administração colonial “além mar”.

Longos-circuitos minerais

Historicamente, as explorações foram subdivididas em circuito do ouro e do diamante. Tanto o circuito do ouro, quanto o circuito do diamante, fomentaram o florescimento de cidades e vilas.

A estrutura fundiária territorial adaptou-se a este ciclo de apropriação dos recursos naturais, proporcionando consideráveis disparidades sócio-econômicas que colaboraram com a crescente exaustão ambiental.

Apesar da ocupação proveniente do oeste se expandir na região da serra do Sincorá, com presença de criadores de gado e roceiros, até o início do século XVIII o uso da terra não foi significativo na área do atual Parque Nacional da Chapada Diamantina.

Circuito do ouro – Rio de Contas

A descoberta do ouro no sul da Chapada, no rio de Contas, aproximadamente no ano de 1710, desencadeou o povoamento da região, e a agropecuária foi substituída pela mineração como principal atividade econômica.

Essa transição cíclica é de fundamental importância para a aurora e desenvolvimento das vilas e cidades, assim como caracteriza um novo modo de exploração e transformação da natureza local, decorrente da ação antrópica.

Conforme Tavares (2001), o ouro encontrado inicialmente na Bahia foi proveniente de Jacobina, do rio das Contas (ou de Contas), de Araçuaí e Tucambira.

Ouro e Diamantes da Chapada
Panorama regional da Serra das Almas, onde localizam-se o circuito do ouro baiano e os três pontos culminantes do Nordeste. A seta a direita aponta o Pico do Itobira, o segundo mais alto – 1970m. Visada noroeste. (Imagem: Ricardo Borges)

Após a difusão da notícia da descoberta de ouro na Chapada, exploradores, aventureiros e bandeirantes oriundos de outros polos mineiros, migraram e contribuíram para a intensificação da colonização regional, que aconteceu de uma forma desenfreada e desorganizada.

Os sertanistas que descobriram as minas de ouro no rio de Contas foram os paulistas Sebastião Pinheiro Raposo e Antônio de Almeida Lara.

A princípio eles vieram à região nordestina com o objetivo de combater os indígenas e a rebelião do Quilombo de Palmares. A existência de ouro foi identificada nas nascentes do rio de Contas pequeno, atualmente chamado rio Brumado.

100 anos de ouro de aluvião

O ciclo do ouro baiano durou aproximadamente 100 anos, abrangendo as fases da descoberta, apogeu e crise. Nesse período, as bases da colonização da Chapada Diamantina foram assentadas.

O grande entreposto comercial regional, entre 1745 a 1845, foi a vila de Rio de Contas. A partir dos primeiros anos do século XIX, as jazidas de ouro de aluvião baianas começaram a se esgotar (CPRM, 1994). Outros municípios que compõem o circuito do ouro são Piatã, Rio do Pires e Jussiape.

Apesar da identificação da presença aurífera na Bahia, este bem mineral não foi de imediato lavrado, devido à política colonial da coroa portuguesa que preferia concentrar a produção de ouro e pedras preciosas na região das Minas Gerais. Portanto, a produção foi acanhada na primeira metade do século XVIII.

Quando a administração metropolitana tomou conhecimento da existência do mineral nas searas baianas, tratou de proibir a garimpagem em Rio de Contas, denotando o desinteresse das autoridades em relação ao ouro baiano.

Pujança e lucro metropolitano

Similarmente à exploração aurífera em Minas Gerais, o ouro oriundo da Chapada propiciou o enriquecimento da Coroa portuguesa, que exerceu de forma opressora a fiscalização da lavra e o controle da comercialização, para garantir o exclusivo metropolitano sobre a expoliada colônia.

A aplicação do chamado quinto, juntamente com a criação de casas de fundição e desmembramento de freguesias, foram medidas adotadas pela administração colonial para garantir um escoamento contínuo dos recursos.

Ouro e Diamantes da Chapada
Versão baiana da Estrada Real. Por onde o ouro era escoado aos portos, rumo a Lisboa. Rio de Contas, Chapada Diamantina – BA. (Imagem: Ricardo Borges)

O fluxo migratório foi incrementado com a chegada de pessoas de vários lugares, inclusive de Portugal e demais países europeus. Povoados e cidades fulminantemente se ergueram, a exemplo do povoado Mato Grosso fundado por portugueses no distrito Rio-Contense, existente até os dias atuais.

Quando os bandeirantes chegaram na região, encontraram grupos quilombolas que escaparam de um navio negreiro que naufragou nas imediações de Itacaré. Seguindo o curso do rio de Contas eles fugiram e formaram povoados na serra – Barra e Bananal.

As comunidades resistiram ao tempo. Os paulistas utilizaram esses grupos como mão de obra escrava na mineração do ouro.

Durante a corrida do ouro, o município de Rio de Contas vivenciou um período de longa prosperidade econômica. Tradicionais famílias importavam da Europa peças de uso pessoal e de decoração, com a riqueza proveniente da exploração aurífera de aluvião.

Durante as festas e procissões municipais, os abastados proprietários utilizavam pó de ouro como confetes, em uma demonstração de pujança econômica.

Os casarões em estilo colonial da cidade sede, que hoje são tombados pelo IPHAN 8, foram construídos com o capital procedente da garimpagem do ouro.

No presente, o histórico município de Rio de Contas é um importante entreposto geoturístico da Chapada dos diamantes e do ouro. Ponto de partida para inesquecíveis trilhas para cachoeiras, povoados e suntuosos mirantes e picos ao longo da Serra das Almas.

Ouro e Diamantes da Chapada
Mirante na boca da Cachoeira Véu de Noiva (rio Brumado), Rio de Contas – Chapada Diamantina sul, Ba (Imagem: Ricardo Borges)
  • Capa: Visual da Serra das Almas a partir de lagoa em Livramento de Nossa Senhora – BA. (Imagem: Ricardo Borges)

Referências

BORGES, Ricardo. Degradação ambiental e poluição dos rios do Parque Nacional da Chapada Diamantina por atividades garimpeiras – consequências sócio-econômicas e ambientais. Universidade Federal da Bahia – Mestrado em Economia Ambiental. UFBA. Salvador, 2005.

CPRM-Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Projeto Chapada Diamantina: Parque Nacional da Chapada Diamantina-BA: Informações Básicas para a Gestão Territorial: Diagnóstico do Meio Físico e da Vegetação. CPRM/IBAMA. Salvador, 1994.

FUNCH. Roy. O Parque Nacional da Chapada Diamantina e as Lavras Diamantinas. Base Cartográfica Digital do Estado da Bahia. Produzido pela SEI/IBGE/SRH. 2004.

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP: Salvador, Ba: EDUFBA, 2001.

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

2 thoughts to “A rica Chapada dos diamantes e do ouro!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !! Copyright (c) 2020. GeobservatoriO