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Desertificação: processos naturais e antrópicos.

Desertificação: processos naturais e antrópicos

A desertificação é causada por processos naturais e/ou antrópicos. Consta entre os graves problemas do meio ambiente da atualidade, produzindo deterioração e externalidades sócio-ambientais negativas e irreversíveis.

Com o intuito de conscientizar e alertar sobre esta importante pauta, a Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu o dia 17 de junho como Dia Mundial de Combate à Desertificação e reflexão sobre as principais alternativas mitigadoras.

Conforme a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (UNCCD), do qual o Brasil é também signatário, podemos inferir que a “desertificação é a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas“.

Esse tratado internacional multilateral, negociado durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), tem como principal objetivo a proteção do ambiente natural, visando o combate à desertificação, principalmente em países que enfrentam secas severas, suscetíveis ou não à desertificação.

Processos naturais da desertificação

A desertificação está atrelada a processos naturais e antrópicos, ou à conjunção de ambos. Em termos gerais a desertificação natural está associada a mudanças do clima em larga escala, com reflexos nos regimes pluviométricos. Contudo, vale ressaltar a existência de distinção conceitual, que considera o processo de formação natural de desertos, como desertização (RUBIO, 1955 apud PEREIRA NETO, 2016).

Ao longo do tempo geológico, os cientistas auferiram a existência de variações climáticas que decisivamente afetaram a superfície do planeta. Períodos cíclicos e duradouros de aquecimento e resfriamentos (glaciações) foram registrados ao longo de milhões de anos.

A tendência de mudanças climáticas com viés de aquecimento imprime maior aridez ao clima. Este processo ocasiona o empobrecimento e a diminuição da umidade dos solos, que gradativamente se tornam arenosos.

A escassez de chuvas em regiões subúmidas, áridas e semiáridas incrementa a tendência de geração de desertos. Geralmente, o índice de pluviosidade é baixo nestas áreas propensas à desertificação. Em média inferior a 1400 milímetros anuais.

Este processo diferencia-se da arenização, que pode degradar não somente regiões com baixo índice de chuvas, e que apresentam evaporação superior à precipitação. A arenização ocorre em solos com composição pedológica diferenciada, terrenos arenosos compostos por grãos de quartzo – areias quartzosas. A remoção da cobertura vegetal também acelera a evolução da arenização.

Atividades humanas incrementam a desertificação

Outro determinante fator, que promove constantes alterações no espaço geográfico e incremento dos processos de desertificação, é a pressão antrópica exercida em ecossistemas frágeis. Estas alterações são geradas a partir de atividades relacionadas à ocupação inadequada, agricultura, pecuária e atividades de mineração.

As principais práticas incluem desmatamentos e extrativismo vegetal, técnicas de irrigação indevidas, queima de pastagens naturais, e uso de agroquímicos e defensivos agrícolas.

O desmatamento desencadeia uma série de consequências e perda de umidade que podem acarretar o fenômeno da desertificação. É a intervenção humana inicial que afeta e fragiliza os ecossistemas e reprimem a biodiversidade.

A remoção de ampla variabilidade vegetal gera impactos no ciclo hidrológico, na medida em que proporciona redução na evapotranspiração da flora. Este mecanismo reduz a disponibilidade hídrica atmosférica, impactando no regime de chuvas, fomentando o ressecamento dos solos, alterações de clima locais e atrofia dos corpos hídricos.

O uso de fertilizantes, herbicidas e defensivos gera o enfraquecimento do solo, como também maior concentração no terreno de elementos tóxicos contidos em sais solúveis. E a tendência da utilização destes agroquímicos é a contaminação dos mananciais e águas subterrâneas.

O uso extensivo e inadequado da irrigação na exploração agrícola gera uma crescente salinização em solos que já apresentam suscetibilidade a este processo, principalmente em regiões semiáridas e áridas. Este recurso, sem adequadas formas de controles e sistemas de drenagem, proporciona a elevação do nível superficial do lençol freático. O contato da franja d´agua, que contém concentrações de sais em solução, com o terreno, promove um enriquecimento salino do solo.

Em regiões que apresentam taxas de evaporação superiores ocorre a redução da umidade dos solos, e uma constante salinização. Os resíduos sólidos de sais permanecem no terreno após a evaporação, incrementando o processo de desertificação. Tais práticas viabilizam a deterioração de enormes áreas agricultáveis.

Áreas Susceptíveis no Brasil

Baseado em informações do Ministério do Meio Ambiente (MMA), no Brasil, as Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD), encontram-se no bioma Caatinga e abrangem os nove Estados do Nordeste, e parte de Minas Gerais e do Espírito Santo.

Concentram-se nas áreas Semiáridas, Subúmidas Secas e em Áreas do Entorno nas quais a razão entre a precipitação anual e evapotranspiração potencial está compreendida entre 0,05 e 0,65.

De acordo com dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), no Estado do Ceará, cujo território está 100% suscetível a processos de desertificação, o acréscimo do fenômeno está conectado ao uso incoerente da agricultura irrigável, com geração de danos irreversíveis aos solos.

Desertificação e desenvolvimento sustentável

Os processos naturais de modificação do espaço geográfico e transformação de ambientes para áreas desérticas ocorrem em um compasso lento, de acordo com os trâmites naturais da escala de tempo geológico. Em contrapartida, o avanço da desertificação oriundo das atividades exploratórias antrópicas desenvolve-se a passos largos.

Estes aspectos condicionam as próximas gerações a herdaram ambientes inapropriados e hostis para a sobrevivência humana. Espaços extensos com paisagens tipicamente desérticas, com solos áridos, secos e salinizados, em conjunção com o baixo regime pluvial, deterioram drasticamente a qualidade de vida. As medidas mitigadoras dos impactos sócioeconômicos e ambientais requerem investimentos de grande montante, na tentativa de reversão do processo de desertificação.

A correta alocação dos escassos recursos naturais para suprir as necessidades crescentes derivadas do crescimento populacional, sem que haja exaustão do meio ambiente é um dos grandes desafios da humanidade. O desenvolvimento sustentável preconiza a consciente utilização dos recursos para reduzir os processos de desertificação. evitar novas e constantes deteriorações generalizadas dos ecossistemas, com o intuito de minimizar a destruição do potencial biológico da Terra.

Imagem da capa: (Reprodução – BorgenMagazine)

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

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