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Geociências e as Sociedades do Futuro

Geociências e as Sociedades do Futuro

* O texto em pauta – Geociências e as Sociedades do Futuro, foi vencedor de um concurso nacional da Sociedade Brasileira de Geologia – SBG, no âmbito do 43º Congresso Brasileiro de Geologia.

Florescimento da conscientização ecológica

O advento da era da informação viabilizou a difusão mundial da conscientização ecológica, cujo florescimento remonta ao início da década de 1970. Nesse período surgiram os primeiros grupos ambientalistas organizados, e aconteceram debates internacionais a respeito da preocupante questão ambiental.

A visão holística da natureza ganhou espaço na sociedade. A associação multidisciplinar entre muitas áreas do conhecimento emergiu como alternativa para um estudo unificado no que concerne à complexa problemática da relação entre o ser humano e o meio ambiente.

A fragilidade da nossa biosfera e a irracional forma de exploração dos recursos terrestres tornaram-se bastante clarividentes. O entendimento da intricada interligação entre todos os organismos vivos é essencial para uma compreensiva inclusão da espécie humana na cadeia produtiva natural. Fato que contribui para uma harmonização ecológica constante.

Em virtude do esgotamento de muitos recursos e drástica deterioração ambiental, as sociedades do presente e do futuro dispõem de diminuto tempo para direcionamento de atitudes que visam conciliar o crescimento populacional com a preservação da atual biodiversidade do planeta.

Geociências nas sociedades do futuro

Neste sentido, o aproveitamento de valiosas informações oriundas das geociências, e o domínio de determinadas técnicas, são imprescindíveis para um bom gerenciamento exploratório dos exíguos recursos, objetivando a minimização de impactos ambientais.

Humanidade – fator de desequilíbrio e desgaste ambiental

A forma de apropriação da natureza proporciona a inferência de que a presença da espécie humana, em qualquer que seja o habitat terrestre, é um significativo fator de desequilíbrio e desgaste ambiental.

Desde os primórdios da civilização, e principalmente após a última glaciação quaternária no hemisfério norte, a espécie sapiens geralmente necessitou moldar a natureza ao seu redor para melhor capacitar a sua sobrevivência e a perpetuação da linhagem.

Ao longo de milênios, as civilizações que conseguiram maior organização social exploraram e esgotaram recursos naturais mediante a subjugação de outros grupos étnicos. Nos últimos quinhentos anos, após o advento da navegação, a ação antrópica se disseminou para os continentes do chamado novo mundo.

Novas formas de exaustão, contaminação e poluição da natureza foram engendradas com o intuito de atender ao bem estar e desenvolvimento de umas poucas nações, que acumularam excedente econômico no decorrer dos séculos, em detrimento dos custos sócio-ambientais postergados para gerações futuras.

Histórica degradação da Mata Atlântica

No Brasil, um dos principais ecossistemas degradados pela irracional exploração de recursos naturais foi a Mata Atlântica. O serviço do exclusivo metropolitano, ao qual o Brasil-colônia estava submetido, gerou um desmatamento sem precedentes deste grande bioma brasileiro.

O caráter predatório do processo de civilização e ocupação do solo brasileiro, em função dos ciclos econômicos, acarretou prejuízos naturais irrecuperáveis, como também desencadeou a expulsão dos nativos indígenas para o interior. Com a descoberta do ouro, e o advento do ciclo da mineração, a degradação atingiu os rios e adjacentes matas ciliares do nosso território.

Apropriação da natureza e acumulação primitiva de capital

Nas demais regiões do planeta, a exploração dos recursos naturais não foi diferenciada. O processo de apropriação da natureza está intimamente associado à acumulação primitiva de capital praticada pelos países europeus que estavam na vanguarda da industrialização.

Estas nações, pioneiras da revolução industrial, normalmente não continham em seus domínios territoriais as principais matérias-primas necessárias para fomentar o constante processo de mecanização da produção. A obtenção desses recursos era derivada da exploração dos países colonizados, posteriormente classificados como países capitalistas periféricos.

O ímpeto desenvolvimentista das grandes potências mundiais, associado aos precários conhecimentos em geociências, e às incipientes mensurações dos danos ambientais decorrentes do sucateamento dos recursos, produziram os atuais desequilíbrios ecológicos.

Neste aspecto, destacamos que: o desmatamento de florestas; os processos colaboradores de alterações climáticas; a contaminação e assoreamento dos mananciais hídricos e de aqüíferos; os danos à biodiversidade; e a poluição oriunda do uso dos combustíveis fósseis, são algumas das atuais conseqüências sócio-ambientais provenientes das atividades econômicas dos últimos séculos.

Internacionalização do capital x recursos naturais

Os efeitos nocivos se acirraram principalmente após a internacionalização da cadeia de acumulação de capital. Momento em que o capital industrial se apoderou diretamente e em maior grau dos recursos disponibilizados pela natureza.

O conforto e bem estar alcançado por parte da humanidade foram obtidos mediante a exploração da natureza. Consubstanciados através do suprimento de insumos minerais, recursos hídricos e de combustíveis baseados em hidrocarbonetos, aniquilação de biomas, bem como pela escravização e usurpação indevida de riquezas minerais e energéticas pertencentes a habitantes de outras regiões.

Geociências e as Sociedades do Futuro
(Imagem: Ricardo Borges)

Além das eventuais catástrofes naturais, o risco de uma hecatombe planetária e alastramento de epidemias é iminente. A possibilidade de extinção de muitas espécies poderá acarretar sérios danos para os seres humanos.

Todavia, e de forma irresponsável, as sociedades economicamente mais desenvolvidas continuam a procrastinar a adoção de medidas que visem reduzir os índices de depreciação do meio ambiente.

A degradação ambiental observada em muitas regiões do globo terrestre evidencia a forma como as sociedades pretéritas desfiguraram a paisagem e o relevo. Denota também como os agentes de transformação da natureza, alteraram os aspectos geomorfológicos de algumas regiões.

As externalidades negativas desencadeadas por estas atividades são sensivelmente prejudiciais, proporcionando desajustes ambientais, paisagísticos e altos custos sociais para os próprios seres humanos.

Estes problemas deixam patente para as sociedades futuras que todos dependem do equilíbrio ecológico para desfrutar de uma qualidade de vida em unicidade e harmonia com a natureza.

Dicotomia: crescimento populacional x preservação ambiental

Atualmente, a civilização vive um grande dilema que compreende a questão da conciliação entre o crescimento populacional com uma biosfera sustentável.

A proliferação da espécie humana, associada às suas ilimitadas necessidades, incentiva o incremento da produção comercial e industrial, estimulando a ampliação das áreas agricultáveis e de pecuária extensiva. Este aumento populacional exponencial também fomenta a contínua exploração de recursos naturais renováveis e não-renováveis.

As principais regiões habitáveis do planeta já foram ocupadas, e a maioria dos recursos já se exauriu. Inerente a esta questão está o fato de que alguns países não dispõem de determinados recursos em abundância, a exemplo da água e do petróleo.

A escassez hídrica em algumas zonas e a possível contaminação de aqüíferos em outras regiões do globo poderão gerar sérios conflitos a serem resolvidos futuramente pela humanidade.

Excelência das Geociências nas sociedades do futuro

(Imagem: BigStock)

Neste atual, desafiador e quase caótico panorama, as geociências assumem papel de extrema importância, referente ao manejo e exploração racional dos recursos ainda disponíveis. A utilização dos conhecimentos oriundos das ciências da terra para o processo de restauração de áreas degradadas pela ação antrópica é fundamental.

A análise da trajetória humana, e, consequentemente, dos atuais distúrbios apresentados pela natureza, é de vital importância para que as sociedades do futuro tenham condições de compilar as alternativas viáveis. Por outro lado, o estudo comparativo entre a evolução geológica planetária e as alterações decorrentes da interferência do homem no meio físico, amplificam a percepção e facilitam a consecução de medidas que visem o desenvolvimento sustentável.  

Neste sentido, o incremento nos investimento em pesquisa nos setores de ciências naturais, da terra e biológicas, e em educação ambiental, é imprescindível para a visualização dos processos dinâmicos terrestres e da interação entre os organismos e populações.

A compreensão dos processos vitais, da evolução e das mutações biológicas dos seres vivos é também uma grande ferramenta auxiliar para o conhecimento da biodiversidade e para a percepção e análise de resultados colaterais oriundos da insistente interferência humana no meio biótico.

As ferramentas disponibilizadas pelo conhecimento geocientífico se espraiam por vários setores das atividades humanas. No atual cenário ambiental, uma boa fundamentação em geociências possibilita, quando adequadamente projetado e aplicado, a visualização de riscos potenciais à natureza decorrentes de determinadas práticas exploratórias.

Campos de atuação do geocientista

As áreas de atuação e de contribuição das geociências para as sociedades do futuro, além das tradicionais atribuições, são bastante diversificadas, entre as aplicações:

  • gestão qualitativa de recursos hídricos, energéticos e minerais;
  • estudo de impacto das atividades humanas em zonas costeiras;
  • restauração de mananciais hídricos e de sistemas hidrográficos deteriorados e assoreados;
  • levantamento dos níveis de poluição hídrica e atmosférica;
  • auxílio a técnicas de reflorestamento;
  • agenciamento em Geoturismo e conservação de patrimônio geológico;
  • racionalização da exploração de bens minerais e do petróleo;
  • avaliação da qualidade dos solos utilizados na agricultura;
  • avaliação preventiva de possíveis desastres naturais a exemplo de vulcanismos, terremotos e maremotos, entre outros.
Geociências e as Sociedades do Futuro
(Imagem: Ricardo Borges)

O aumento populacional estimula o incremento na produção de alimentos, que por outro lado fomenta o crescimento da agricultura e a expansão do agronegócio para outras zonas não exploradas. Neste sentido, o embasamento geocientífico possibilita a determinação dos danos ambientais gerados pela utilização desenfreada dos esquemas de irrigação para aumento de produtividade das lavouras.

Os custos para o meio ambiente em virtude da construção de represas, poços e canais, as conseqüências da salinização dos solos e da redução do nível de lençóis freáticos e da qualidade da água no subsolo, podem ser melhor auferidos através da aplicação de conhecimentos originários das ciências da terra.

O presente panorama requer e favorece o aprofundamento e desenvolvimentos teóricos nos diversos ramos das geociências, que assumem posição de destaque no sentido de minorar os problemas decorrentes das constantes necessidades de recursos apresentadas pelos seres humanos.

Irreversíveis transformações da natureza

A histórica ação dos agentes econômicos, através da sua interferência agressiva e irreversível, tem incrementado a entropia do sistema no qual estamos inseridos. Na sua trajetória, o ser humano somente enfatizou o crescimento econômico, esquecendo-se da importância da sustentabilidade ecológica e da necessidade de uma convivência equânime com as outras espécies.

O homem, em um curto lapso de tempo, está produzindo transformações irrecuperáveis em um ambiente natural cuja evolução geológica e da vida ocorreu de forma lenta e progressiva ao longo de bilhões de anos. A atual aniquilação da biodiversidade promovida pelo ser humano é comparável, ou mesmo superior, às extinções em massa pesquisadas no decorrer da história geológica.

Os erros das gerações anteriores estão evidentes e deixaram seqüelas cujos efeitos já foram detectados e vivenciados pelas sociedades atuais. Cabe às sociedades do porvir analisar a problemática sob um espectro cientificamente unificado e holístico, promovendo uma racional gestão ambiental dos escassos recursos.

Desta maneira poderá encontrar um equilíbrio sustentável que viabilize e concilie a preservação ambiental, com a geração de bem-estar e diminuição dos índices de pobreza e subdesenvolvimento existentes atualmente no globo terrestre.

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Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

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