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A Revolução Industrial e os diamantes da Chapada

A Revolução Industrial e os diamantes da Chapada

A história da exploração na Chapada dos diamantes está vinculada ao avanço da Revolução Industrial. Este mineral contribuiu para o incremento técnico das primeiras ondas de inovações que garantiram aos países industrializados acumularem capital.

O nome da encantadora região conhecida como Chapada Diamantina é decorrente dos diamantes. Porém, é necessária uma reflexão sobre o destino deste bem mineral, em qual contexto foi lavrado e quem se beneficiou com a sua exploração.

Este texto compõe a série de artigos relacionados aos diamantes da Chapada Diamantina. Os demais tópicos são: 1 – Os Diamantes e Seus Mistérios na Chapada Diamantina; 2 – Histórico da Exploração na Chapada dos Diamantes; 3 – A evolução geológica da Chapada Diamantina; e 4 – Chapada Dimantina Sempre Viva!

Contexto mundial

O diamante, principal riqueza mineral da Chapada Diamantina, fomentou o florescimento das principais cidades e povoados da região.

O Brasil, entre os séculos XVIII e XIX, foi o maior produtor mundial de diamantes, cujas sedes eram Minas Gerais (Diamantina) e Bahia (Chapada Diamantina).

Nesse período em que a extração dos diamantes atingiu o apogeu, o mundo vivia um momento de grande efervescência sócio-econômica e política. A Revolução Industrial começara a difundir-se por várias partes do planeta.

Além da Inglaterra, outros países, como a Bélgica, França, Alemanha, Itália, Rússia, Estados Unidos e Japão, organizaram-se e aprofundaram o seu processo de acumulação de capital.

O crescimento das cidades se intensificou. Diferentes formas de produção energética foram descobertas, novos tipos de combustíveis surgiram e os transportes marítimos e terrestres passaram por um profundo processo de evolução tecnológica.

Como conseqüência, a demanda por recursos naturais multiplicou-se, e a constante mecanização da indústria, gerou a necessidade de exploração de bens minerais diversificados, a exemplo do diamante.

Divisão internacional da produção e a partilha afro-asiática

A maioria desses países, todavia, não dispunha de tais recursos em seus territórios. Para solucionar esta escassez, estes países industrializados passaram a explorar as riquezas naturais de outras regiões do planeta.

Dessa forma, criou-se uma divisão internacional da produção. De um lado, as nações desenvolvidas – com um parque industrial estruturado. Do outro lado, os países fornecedores de matéria-prima, considerados subdesenvolvidos.

A apropriação sucedeu-se através de guerras, imposições via poder econômico e militar, e invasões e conquista de novos territórios.

Uma nova corrida colonial, chamada de partilha afro-asiática, surgiu entre os países europeus. O objetivo principal era suprir as necessidade de recursos naturais, assim como escoar o excedente de produção para novos mercados.

A matéria-prima industrial, a exemplo do carvão, ferro, petróleo e outros bens minerais, existiam em grande quantidade nestas regiões que ainda não tinham sido ocupadas.

Supremacia econômica inglesa

A Inglaterra deteve a supremacia econômica na Europa durante o século XIX. O império inglês foi conquistado utilizando-se tanto métodos pacíficos, como violentos. Seja baseado na supremacia marítima e militar, ou mesmo através da dominação comercial e financeira.

A influência inglesa sobre Portugal, e concomitantemente sobre suas posses territoriais, já era observada desde os tempos do Brasil colônia.

A situação brasileira, comparativamente a outros países periféricos do sistema capitalista, não foi muito diferente. O capital inglês se entranhou e tornou o Brasil extremamente dependente.

Além de desfrutar de grandes vantagens econômicas, dificultando e retardando o processo de industrialização brasileira, a Inglaterra, por vias legais ou mesmo através de contrabando, beneficiou-se dos metais preciosos e diamantes que aqui foram encontrados.

Dessa maneira, quase todo escoamento mineral proveniente do Brasil, após passar por Lisboa, seguia para os cofres ingleses.

Importância comercial do diamante

Neste contexto da revolução industrial, o diamante, e suas excelentes propriedades, assume importante papel no dinâmico processo de mecanização fabril.

Este bem mineral tornou-se imprescindível para a constante evolução tecnológica característica do modo de produção capitalista. Suas propriedades ópticas e grande resistência estimularam sua exploração ao redor do mundo, e essencialmente no território brasileiro.

Além da sua utilização comercial como gema, as propriedades de corte, perfuração e polimento, oriundas da sua alta dureza, torna-o extremamente importante. Atualmente, o uso em larga escala ocorre também em aplicações científicas e em chips de computadores.

Revolução industrial e os diamantes da Chapada

O diamante proveniente da Chapada Diamantina alimentou o processo internacional de acumulação de capital dos países desenvolvidos. Nesta época o capital industrial estava apoderando-se diretamente e em maior grau dos recursos disponibilizados pela natureza.

As jazidas da região começaram a ser lavradas com maior ênfase e geralmente de forma rudimentar. Essas atividades colaboraram com a viabilização do avanço tecnológico, das inversões no setor industrial e com o incremento da formação de capital das potências europeias.

A exploração comercial da valiosa gema proporcionou períodos áureos. Contudo, foi curta a vida média do ciclo do diamante, e o seu declínio esvaziou as redondezas dos antigos garimpos, gerando pobreza para a população remanescente.

A Revolução Industrial e os diamantes da Chapada
Museu do garimpo – Mucugê, Chapada Diamantina – Bahia

O escoamento da riqueza mineral brasileira, pouco beneficiou os que diretamente trabalhavam nas minas. Somente a classe dos grandes proprietários de terra e coronéis da região auferiu lucros com a extração e a exportação de diamantes.

O garimpeiro autônomo, quando encontrava uma gema de bom quilate, costumava exaurir rapidamente o capital levantado com a negociação do bem mineral. A maioria da população ficou alijada de todo o processo econômico.

O grosso da produção das lavras dos diamantes da Chapada foi escoado para os países capitalistas centrais nas primeiras fases da revolução industrial. O interesse internacional era grande, a ponto do governo francês instalar um vice-consulado em Lençóis, com o intuito de viabilizar e agilizar as exportações dos diamantes.

No início do século XX, a estratégica construção do canal do Panamá, muito se beneficiou do carbonado (uma variedade impura do diamante) lavrado na Bahia. Este empreendimento foi um dos maiores e mais difíceis projetos de engenharia já executados, e contribuiu significativamente para o advento da hegemonia mundial dos Estados Unidos.

Diamante carbonado
Diamante carbonado encontrado em Lençóis – Ba (Reprodução: oficina70.com)

Referências

ARRUDA, José Jobson de A. História Moderna e Contemporânea. 18ª ed., São Paulo: Ática, 1985.

MATHIAS, Herculano G.; GUERRA, Lauryston; CARVALHO, Afonso Celso V.; ALVES, Therezinha M. História do Brasil, Vol. 1. Bloch Editores. Rio de Janeiro, 1972.

MELLO, João Manuel C. de. O Capitalismo Tardio. 9ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1994.

SAMPAIO, Deomar. Diamantes e carbonados do alto Rio Paraguaçu: geologia e potencialidade econômica. Salvador: Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, 1994.

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP: Salvador, Ba: EDUFBA, 2001.

Imagem da capa: Mercado cultural de Lençóis, Chapada Diamantina, Brasil. (Foto: Branco Pires)

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

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