Esse tópico contém uma breve descrição do histórico da exploração mineral na Chapada dos diamantes, onde abordaremos o surgimento das vilas e cidades, a sua importância econômica e o declínio do ciclo diamantífero.
Surgimento das vilas e cidades
A história da Chapada Diamantina está estritamente vinculada à exploração mineral. Tanto o circuito do ouro, na região de Rio de Contas, como o circuito do diamante fomentaram o surgimento e florescimento de cidades e vilas.
A estrutura fundiária da região moldou-se a este ciclo de apropriação dos recursos naturais, gerando consideráveis discrepâncias sócio-econômicas que colaboraram com a crescente exaustão do meio ambiente.
A descoberta de aluviões que continham diamantes proporcionou um novo ciclo econômico na Chapada Diamantina. Durante o ciclo da mineração do ouro, o município de Rio de Contas foi o principal centro da economia da região. Com o advento das jazidas de diamantes, prosperou um novo circuito de exploração mineral que tinha como principal entreposto comercial a cidade de Lençóis (TAVARES, 2001).
Uma nova geração de assentamentos humanos desenvolveu-se nos entornos da serra do Sincorá. Os garimpeiros, revolvendo os cascalhos dos leitos dos rios, principalmente nas nascentes do rio Paraguaçu, extraiam grande quantidade de diamantes, e desorganizadamente foram construindo suas habitações.
Importância econômica da Chapada dos diamantes
A região do Alto Paraguaçú passou a ser conhecida como Chapada Diamantina justamente por causa das atividades de extrativismo mineral que se iniciaram na primeira metade do século XIX. A corrida exploratória foi incentivada pela descoberta da abundância dos cascalhos aluvionares diamantíferos (BOMFIM et al., 1994).
O pulso mineiro e sua lavra abrangeu as seguintes áreas: Iniciou-se em Mucugê, expandindo-se em seguida para o sul, até se aproximar do vale do rio de Contas. Posteriormente alastrou-se para o norte, criando novas povoações como Xique-Xique (Igatu), Andaraí e Lençóis. E em um estágio final, a exploração chegou a Morro do Chapéu. (BOMFIM et al., 1994)
A exploração diamantífera transformou-se na principal fonte econômica local, e a sua importância para a economia baiana tornou-se cada vez maior. Baseado em estudos de Bomfim et al., (1994), durante aproximadamente um quarto do século XIX, a Chapada foi a maior produtora mundial de diamantes.
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Em virtude deste cenário, as autoridades chegaram a estudar a possibilidade de transferir a capital do Governo Provincial para a região. Com o objetivo de viabilizar seus negócios, o governo francês instalou um vice-consulado em Lençóis.
Na fase áurea do garimpo, foi construída uma ferrovia para incrementar o escoamento da produção das jazidas de diamantes. Essa estrada de ferro alcançou o sopé da Chapada Diamantina, ligando a região ao porto de Salvador, local onde ocorria a exportação do minério para os países desenvolvidos.
Descoberta do potencial diamantífero
O conhecimento do potencial diamantífero regional ocorreu antes do início das explorações das jazidas. Consoante pesquisas de Tavares (2001), o Capitão-Mor Felix Ribeiro de Moraes foi provavelmente o primeiro a encontrar diamantes na região da serra do Gagau, fato ocorrido entre os anos de 1817 e 1818.
Ele apresentou os minerais a um importante coronel da época, chamado Joaquim Pereira de Castro, que pelo fato da exploração de jazidas fora dos circuitos de Minas Gerais ser proibida, guardou segredo e não divulgou a descoberta (BOMFIM et al., 1994).
Baseado em Funch (2004), o relatório dos naturalistas europeus Spix & Martius (1820), que descrevia a descoberta de uma enorme jazida de diamantes na serra do Sincorá, atribuiu um caráter científico para as prospecções, reforçando a crença da existência de ampla riqueza mineral.
Zeca do Prado: primeiro a encontrar a gema
A liberação da lavra de diamantes no território baiano ocorreu no ano de 1832, difundindo o povoamento e uma nova geração de assentamentos na região (BOMFIM et al., 1994). Segundo Teixeira (1998), foi José Pereira do Prado, o “Zeca do Prado”, o primeiro a encontrar a gema na Chapada.
Pesquisas de Misi & Silva (1996) e Funch (2004), citados abaixo, atribuem a este cidadão a descoberta de amplas minas no leito dos rios Cumbucas e Mucugê no ano de 1844. Quando as notícias se espalharam, desencadeou-se a corrida do diamante. Num curto espaço de tempo, chegaram milhares de pessoas, originando as vilas, povoados e cidades que giravam em torno da exploração das jazidas (Figura 2).
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“Foi, de fato, numa travessia da serra, em 1844, feita por “um modesto negociante de nome José Pereira do Prado que … se conta…viajava para Andaraí, a fim de efetuar compras de farinha ou estabelecer contatos com roceiros que a esse tempo já ali existiam…” que os diamantes da Chapada foram revelados ao mundo.!“
Ávidos garimpeiros e aventureiros, após tomarem conhecimento da descoberta de ricas jazidas, ocuparam as serras que anteriormente eram cobertas por vastas e densas florestas virgens, alterando para sempre a história da região. A ocupação desordenada, juntamente com a garimpagem praticada ao longo dos séculos, desencadeou alterações paisagísticas (NOLASCO, 2001).
Declínio do ciclo diamantífero
O período de apogeu da exploração dos diamantes durou em média 25 anos, e após 1871, o garimpo começara a entrar em declínio.
Entre os fatores que acarretaram a decadência, ressalta-se a concorrência de jazidas diamantíferas da África do Sul, associadas inicialmente a aluviões, e posteriormente a kimberlitos (rochas fonte que abrigam os diamantes), com lavras em pipes vulcânicos. Após este período, a liderança brasileira na produção de diamantes foi suplantada por este país.
Outro importante fator que contribuiu para o declínio do ciclo do diamante foi a forma de exploração das jazidas. Os métodos aplicados para a extração do mineral, um recurso não-renovável, eram rudimentares e não permitiam a exploração de depósitos de médio e baixo teores.
O esvaziamento das cidades e de antigos sítios mineiros concretizou-se. Ricos proprietários de terras e poderosos comerciantes abandonaram as serras por acreditarem que a decadência econômica assolaria a região (Figura 3).
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Somente os núcleos mais importantes, a exemplo de Lençóis, Mucugê e Andaraí sobreviveram à estagnação, sendo que, em períodos de fortes secas regionais e quando ocorriam crises econômicas, estas cidades esporadicamente apresentavam crescimento.
A valorização do carbonado no comércio internacional possibilitou uma nova ascensão das atividades mineiras locais. Após o início dos trabalhos de abertura do canal do Panamá em 1880, a demanda pelo diamante carbonado ampliou-se, alimentando as lavras da Chapada Diamantina. Este subproduto era utilizado para fabricação de brocas de perfuratrizes de rochas devido a sua grande resistência.
- Este texto compõe a série de artigos relacionados aos diamantes da Chapada Diamantina. Os demais tópicos são: 1 – Os Diamantes e Seus Mistérios na Chapada Diamantina; 3 – A evolução geológica da Chapada Diamantina; e 4 – Chapada Dimantina Sempre Viva!; 5 – A Revolução Industrial e os diamantes da Chapada.
- História mineral do circuito do ouro: A Chapada dos diamantes e também do ouro.
Referências – Exploração na Chapada dos Diamantes
BOMFIM, Luiz Fernando Costa; CAVEDON, Ari D. Projeto Chapada Diamantina: Parque Nacional da Chapada Diamantina – BA, Informações Básicas para Gestão Territorial: Diagnóstico do Meio Físico e da Vegetação. Salvador: CPRM/IBAMA, 1994. 104 p., 9 mapas. in http://www.cprm.gov.br/
BORGES, Ricardo. Degradação ambiental e poluição dos rios do Parque Nacional da Chapada Diamantina por atividades garimpeiras – consequências sócio-econômicas e ambientais. Universidade Federal da Bahia – Mestrado em Economia Ambiental. UFBA. Salvador, 2005.
FUNCH, Roy. O Parque Nacional da Chapada Diamantina e as Lavras Diamantinas. Base Cartográfica Digital do Estado da Bahia. Produzido pela SEI/IBGE/SRH, 2004.
MISI, Aroldo e SILVA, Maria G. Chapada Diamantina Oriental – Bahia. Geologia e Depósitos Minerais. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração/ Superintendência de Geologia e Recursos Minerais, 1996.
NOLASCO, Marjorie C., MEDEIROS, Rodi A. e OLIVEIRA, Antônio M. Depósitos Diamantíferos Garimpáveis das Lavras Diamantinas, Ba: A Geologia do Olhar Garimpeiro. Revista Brasileira de Geociências. v. 31, nº 4. 2001.
NOLASCO, Marjorie C.; SILVESTRE, Pedro; TORLAY, Roger; ROCHA, Antônio J. D. Geoparque Serra do Sincorá (Ba) Proposta. Anexo II. Patrimônio Garimpeiro – Memória do Diamante. CPRM, 2017.
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP: Salvador, Ba: EDUFBA, 2001.
TEIXEIRA, Cid. Diamante: beleza e eternidade. Mineração na Bahia: ciclos históricos e panorama atual. Superintendência de Geologia e Recursos Minerais. Salvador, 1998.
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Olá, trabalhando no artigo da Wikipédia sobre a Chapada encontramos um jornal australiano de 1842 dando conta da larga exploração dos diamantes descobertos ali pouco tempo antes (mas um tempo superior a um ano). Acredito que essa versão do “José Pereira do Prado” em 1844 deva se reportar a UM dos garimpos, porque se já na Austrália se anunciava a Chapada dois anos antes, a informação não procede. De qualquer forma, parabéns pelo trabalho e pesquisa.
Obrigado, André!
A nossa pesquisa sobre a origem dos diamantes da Chapada, e pláceres diamantíferos da região oriental envolveu larga pesquisa bibliográfica, desenvolvida em curso de graduação e em mestrado. No capítulo referente às questões históricas, mais precisamente em relação ao que foi reportado sobre “Zeca do Prado”, baseou-se em referências consagradas no meio acadêmico, a exemplo de Teixeira (1998); Misi & Silva (1996) e Funch (2004).
As pesquisas, todavia continuam… Gostaria então que me enviasse o link referência desse tal jornal australiano de 1842.
Pode ser no nosso email aqui, ou pelo instagram: https://www.instagram.com/geobservador.ricardo/
Sds!