Durante o prolongado período Triássico (251 a 201 Ma) surgiu na Bacia do Paraná um grupo de animais atualmente considerados ancestrais dos mamíferos – os cinodontes.
Neste mesmo cenário ambiental brasileiro, em estágio posterior, desenvolveram-se campos de dunas do colossal e inclemente paleodeserto de Botucatu, que favoreceram a hegemonia dos répteis gigantes.
A paleofauna brasileira do Triássico superior era prolífica. De acordo com pesquisas de paleontólogos, no sul do Brasil, e no atual território argentino foram catalogados os mais antigos fósseis de animais semelhantes aos dinossauros. Esses grandes répteis apareceram por volta de 245 e 230 milhões de anos atrás na Era Mesozoica.
Nesta época dos cinodontes (dentes de cão em latim), os especializados dinossauros, do sub grupo dos archossauros, ainda não dominavam a Terra. Fato que somente ocorreu na transição para o Jurássico, após uma grande extinção em massa que dizimou muitos grupos.
As pesquisas paleontológicas indicam que os cinodontes surgiram em período anterior ao grande reinado dos répteis mais inteligentes. Eles se distribuíam por toda parte, durante o período em que os continentes estiveram unificados na Pangeia.
De acordo com trabalhos desenvolvidos na última década, todavia, os fósseis encontrados no Brasil assumem importância crucial na genealogia dos mamíferos.
Consoante pesquisas da arqueóloga brasileira Marina Soares (2015), os cinodontes brasileiros são fósseis-chave para o esclarecimento de dilemas pertinentes à história evolutiva dos mamíferos.
Num total de seis fósséis de répteis que perambulavam no Brasil, entre eles estão os cinodontes (Figura 1).
Contexto paleogeográfico, climático e ambiental
O contexto paleogeográfico da época remonta ao tempo da consolidação do megacontinente Pangeia, até o período da sua ruptura, que derivou os megacontinentes da Laurásia – Hemisfério Norte, e Gondwana – Hemisfério Sul. A fase de formação de rifts iniciou-se no final do triássico, com definitiva separação ocorrendo na transição para o período Jurássico.
Permiano médio e superior (271 a 251 Ma)
Após a estabilização da Pangeia, no final do período Permiano, ocorreu o desaparecimento dos mares e formação de um único oceano global, o Pantalassa. Fenômeno que desencadeou severas alterações climáticas. Em função da distância, os ventos úmidos provenientes do oceano não alcançavam as regiões continentais centrais.
O clima então se tornou mais seco, e estas regiões se transformaram em imensos desertos. Esta hostilidade climática dificultou a sobrevivência de certos grupos de animais e plantas, possivelmente colaborando com a grandiosa extinção em massa do final do Permiano.
No interior dos continentes, o aumento dos áridos desertos proporcionaram maior desenvolvimento e diversificação dos répteis de grande porte, que melhor se adaptaram às condições de clima quente e seco. Os antecessores de pterossauros e dinossauros então surgiram. Neste período também se desenvolveram os sinapsídeos, considerados ancestrais dos mamíferos.
os sinapsídeos se dividiam em dois grupos principais: os pelicossáurios mais primitivos e que se extinguiram ao final do período, e os terapsídeos, que sobreviveram à extinção em massa do final do permiano. Estes grupos apresentavam características que mais se aproximavam dos mamíferos do que dos répteis.
Durante o Permiano, final da Era Paleozóica, o atual Brasil fazia parte do setor da Pangeia que subsequentemente pertenceu ao Gondwana. No nosso território existem registros dos terapsídeos, uma ordem que inclui os mamíferos, seus ancestrais, bem como outros semelhantes que se extinguiram.
Nos sítios arqueológicos do Rio Grande do Sul foram encontrados fósseis do Permiano que datam de 270 milhões de anos.
Triássico (251 a 201 Ma)
No limiar dessa transição entre o Permiano e o Triássico, a paleofauna era caracterizada pelo predomínio hegemônico dos répteis em todos os ambientes: terrestre – os dinossauros; aéreo – os pterossauros; marinho – os plesiossauros.
Ao longo do tempo, no Jurássico, o ambiente foi constante e progressivamente caracterizado por influências climáticas desérticas.
A antiga Bacia do Paraná foi totalmente coberta por um grande deserto, provavelmente o maior que já existiu – o deserto Botucatu. A ação eólica predominava, formando longos campos de dunas, que geraram rochas areníticas bimodais quartzosas.
Diferenciação dos mamíferos
Os pelicossauros surgiram no final do Carbonífero (~320 Ma) e os membros deste grupo foram os mais abundantes e notáveis tetrápodes terrestres durante a maior parte do Permiano.
Ao longo desse período, entretanto, os pelicossauros declinaram em diversidade, e foram substituídos nos ecossistemas terrestres por sucessores mais avançados – os terápsideos. Estes adaptados animais experimentaram uma ampla dispersão ao longo do supercontinente Pangeia.
Entre os Terápsideos distinguem-se seis subgrupos, que incluem seres herbívoros e carnívoros. Os Cynodontia estão inseridos nesta subdivisão. Os cinodontes e os mamíferos são membros da linhagem mamaliana.
Conforme o pesquisador argentino Bonaparte (2014), Os primeiros mamíferos genuínos se diferenciaram por volta de 215 Ma, próximo ao limiar do Triássico e Jurássico. Animais de hábitos insetívoros da família Brasilodontidae – os cinodontes, foram os seus ancestrais diretos.
Estes animais apresentavam características exclusivas dos mamíferos, como sangue quente, pelos sobre o corpo e diferentes tipos de dentes na boca.
A paleontologia de vertebrados considera crucial a importância do papel dos cinodontes brasileiros como fósseis-chave no esclarecimento de dilemas pertinentes ao surgimento e história evolutiva dos mamíferos (SOARES, 2015).
Os fósseis cinodontes brasileiros foram encontrados e coletados na Formação Caturrita, em Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul. Localizada na Bacia do Paraná, esta formação originou-se de ambiente fluvial no Triássico superior, e contêm lenhos e árvores fossilizadas nos seus estratos. A Formação Botucatu a sucedeu.
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Referências
BONAPARTE J. F. El origen de los mamíferos. Buenos Aires: Fundación de Historia Natural Felix de Azara, 2014.
MELO, T. P.; ABDALA, F.; SOARES, M. B. The Malagasy cynodont Menadon besairiei (Cynodontia; Traversodontidae) in the Middle-Upper Triassic of Brazil. Journal of Vertebrate Paleontology.
SOARES, Marina Bento. Cinodontes fósseis brasileiros revelam os primeiros passos da evolução dos mamíferos. Cienc. Cult., São Paulo, v. 67, n. 4, p. 39-45, Dec. 2015. Available from <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252015000400014&lng=en&nrm=iso>. access on 25 Mar. 2022. http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602015000400014.