O ouro da Chapada Diamantina emergiu em função de intrusões provenientes de atividades vulcânicas que ocorreram na região há cerca de 1,4 bilhões de anos.
Durante um século, no período do Brasil colônia, o principal bem mineral e mola propulsora da economia regional foi o ouro. O sul da Chapada já foi o maior polo produtor aurífero do estado da Bahia.
A corrida do ouro ocorreu após alguns anos da sua descoberta em 1710, pelos bandeirantes Sebastião Pinheiro Raposo e Antônio de Almeida Lara, nas nascentes do rio de Contas pequeno (TAVARES, 2001).
O principal entreposto comercial do circuito do ouro foi o município de Rio de Contas, localizado no centro-sul do estado da Bahia (Figura 1A e B).
Acesso: a principal rota rodoviária, com origem em Salvador, é partindo da BR-324 e BR-116 até após o município de Itatim. Em seguida, trafega-se pelas BA-026, BA-130, BA-407 e BR-030 até Brumado. Por fim segue pela BA-148 até Livramento de Nossa Senhora e Rio de Contas, numa extensão de 604 Km.
Intrusões máficas e ouro na Chapada Diamantina
Na área, o ouro geralmente ocorre a a partir de duas fontes: 1. primária – filoniana; e 2. secundária – elúviocoluvionar e aluvionar (GUIMARÃES et al., 2008). O ouro lavrado na Chapada Diamantina por 100 anos foi oriundo de fontes secundárias.
As fontes primárias do ouro de Rio de Contas estão relacionadas às ocorrências de diques e sills máficos do Mesoproterozóico (1,6 a 1,0 Ga) que intrudiram rochas do Supergrupo Espinhaço na Chapada Diamantina e do seu embasamento (BARBOSA et al., 2012).
Estas intrusões, associadas a antigas fraturas das rochas encaixantes, possibilitaram a emersão deste metal que então se alojou nos corpos rochosos dos Grupos Rio dos Remédios e Paraguaçu (Figura 2).
Processos hidrotermais e lixiviação do ouro
De acordo com Barbosa et al. (2012), quando os diques e sills se alojaram, promoveram um contraste térmico entre eles e as rochas encaixantes metassedimentares.
Esta reação desencadeou processos hidrotermais, com liberação de fluidos que possibilitaram a lixiviação do ouro das rochas envolvidas no evento.
Filões de quartzo leitoso aurífero depositaram-se nas fraturas pré-existentes, a partir da percolação de fluidos ricos em sílica e portadores de ouro.
Baseado nas pesquisas de Guimarães et al. (2008), a maioria das unidades litológicas da região contém mineralizações filonianas encaixadas, a exemplo dos xistos, metarenitos, metassiltitos e rochas metavulcânicas.
Os planos de falhas/fraturas preferenciais dos filões quartzo-auríferos dispõem-se, na quase totalidade, segundo planos longitudinais à estruturação regional, cuja direção predominante é NNW-SSE.
Os veios e/ou conjunto de veios estruturalmente arranjados apresentam espessuras diversificadas e podem ser extensionais ou de cisalhamento (GUIMARÃES et al., 2008). Eles podem também apresentar-se de forma caótica como uma brecha hidrotermal.
No trabalho dos supracitados autores, eles consideraram a não existência, na região do projeto, de veios auríferos encaixados em rochas do Grupo Chapada Diamantina.
Nas pesquisas de Barbosa et al. (2012), todavia, eles inferem que a colocação dos filões máficos, de caráter discordante nos Grupos Rio dos Remédios e Paraguaçu, apresenta-se como soleiras, com características concordantes, ao atingir rochas da Formação Caboclo (Figura 1).
Lavras em fontes primárias
Após o esgotamento dos jazimentos secundários – os aluvionares, inicialmente lavrados na região de Rio de Contas, as pesquisas se voltaram para a descoberta dos filões quartzo-auríferos. Esta fonte apresenta maior incidência nas redondezas desta cidade.
Investigações de Sampaio et al. (1976) apud Guimarães et al., (2008) demonstraram que os principais depósitos aluvionares remanescentes da área de Rio de Contas, apesar de não despertarem a atenção dos garimpeiros, encontram-se em trechos do rio Brumado e nos seus afluentes – riachos da Pedra e do Junco.
Processos minerários: conforme mapa da CPRM (2005), observações de campo e dados do Sistema de Informações Geográficas da Mineração (SIGMINE), conclui-se que atualmente na região, ocorrem as fases de sondagens e pesquisas já autorizadas para o recurso ouro, em rochas da maioria das unidades litoestratigráficas da área.
- para informações históricas sobre o circuito do ouro baiano, consulte o artigo: A rica Chapada dos diamantes e do ouro.
- O post Chapada Diamantina – uma longa história, contém uma série de links que retratam a história natural e humana da região.
Capa: Cachoeira Véu de Noiva na Serra das Almas, Chapada Diamantina-Ba, com composições de veios quartso-auríferos. (Imagem: Ricardo Borges).
- Gostou deste artigo? então ajude-nos com qualquer valor para a manutenção e continuação do site, através do PIX: 71 996176741
Referências
BARBOSA, Johildo S.F., FREITAS, Juracy M., CORREA, Luiz G., DOMINGUEZ, José e SOUZA, Jailma. Geologia da Bahia. Pesquisa e Atualização, Volume 2. CBPM, 2012.
BARRETO. Gabriel; BARROS, Rafael; BORGES, Ricardo; GUEDES, João; OLIVEIRA, Daniel; SANTOS. Camila; SILVA, Alana; e SILVA, Igor. Diagnóstico do meio biofísico da região de Livramento de Nossa Senhora e Rio de Contas, Bahia. Volume V, UFBA, Salvador. 2019.
GUIMARÃES, J. T., SANTOS R. A., MELO R. C. Geologia da Chapada Diamantina (Projeto Ibitiara-Rio de Contas). Salvador, CBPM/CPRM, Série Arq. Abertos 31, 64p. 2008.
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP: Salvador, Ba: EDUFBA, 2001.