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“Será Júpiter um segundo Sol?”

Este tópico é uma adaptação de um artigo do livro Astronomia e Astronáutica (1981) do saudoso astrônomo brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, um importante divulgador da astronomia no Brasil. O nosso Carl Sagan! Apesar de teoricamente defasado na atualidade… com a devida vênia, vos apresento o texto: “Será Júpiter um segundo Sol?”

Será Júpiter um segundo Sol?

Discutiu-se, em colóquio astronômico realizado no final dos anos 70 em Leningrado, que Júpiter – o maior dos planetas do sistema solar – deve ser uma estrela em nascimento, com capacidade para se tornar no futuro um segundo Sol.

No final dos anos 60, o astrônomo norte americano Low determinou que o planeta Júpiter emitia 2,7 vezes mais energia do que aquela que recebia do Sol.

Em 1973 e 1974 as sondas Pioneer 10 e 11 confirmaram essa descoberta, o que parece indicar a existência de uma fonte interna de energia. Foi lançada a hipótese de que Júpiter não era um planeta em fase de resfriamento, mas uma estrela abortada, irmã caçula do Sol, embora de dimensões muito menores.

Ora, tal conclusão, além de modificar completamente toda a conceituação de planeta, exige a elaboração de uma nova cosmogonia para o sistema solar. Assim, várias equipes de astrônomos começaram a observar e a estudar o comportamento desse nosso estranho companheiro do sistema planetário.

Após trabalhar independentemente, dois russos – Rostov, de Moscou, e Iaktsk, de Leningrado – chegaram quase simultaneamente à conclusão de que, longe de reduzir a atividade emissora de Júpiter, sua constituição é a de uma estrela em plena expansão.

Júpiter e os satélites (luas) descobertos por Galileu. De cima para baixo: IoEuropaGanímedes e Calisto. (Nasa apud WikipédiA, 2018)

No colóquio de Leningrado, estimou-se – em virtude de reações nucleares internas, semelhantes às que se desenvolvem no interior do Sol – que Júpiter deve emitir muita luz e calor. Como perspectiva, imagina-se que no futuro a sua atual massa de 318 vezes a terrestre não deve deixar de crescer por agregação, isto é, pela captura dos cometas, meteoros, poeira cósmica que passam no campo de influência da sua força de atração.

Prediziam também os astrônomos soviéticos que, dentro de 3 milhões de anos, Júpiter atingirá aquela massa crítica capaz de dar início às reações termonucleares que o transformarão num outro Sol.

Como o hidrogênio e o hélio constituem 99% de Júpiter, suas reservas de combustíveis nucleares não são um problema. Afirmam ainda os astrônomos soviéticos que, antes que o Sol se extingua, ou seja, morra dentro de 9 bilhões de anos, um novo Sol já terá surgido formando um novo sistema de estrelas duplas no Universo.

Ninguém poderá contestar a origem interna da energia de Júpiter, se bem que não se possa explicá-la convenientemente. Em dicionários e verbetes os planetas são conceituados como corpos espaciais sem energia própria.

Entretanto, convém lembrar que uma dúvida permanece: é de como e onde Júpiter encontrará a matéria suficiente, mesmo em bilhões de anos, para atingir a massa crítica prevista pela teoria dos astrônomos russos? Tal quesito é o mais importante, principalmente se considerarmos que mesmo a massa total de todo o sistema solar é insuficiente.

01.02.78

O brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935-2014) foi um físico e doutor em astronomia. Fundador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), pesquisador e sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IGHB). Ele é autor de 98 livros e diversas contribuições científicas.

“É claro que os astros não mentem jamais. Eles não dizem nada mesmo”

Ronaldo R. F. Mourão

Referências

MOURÃO, Ronaldo R. de Freitas. Astronomia e Astronáutica. Editora Francisco Alves. 3ª Edição. Págs. 140 a 142. Rio de Janeiro, 1981.

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

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