Os terremotos na Bahia estão possivelmente associados a antigas falhas geológicas. Apesar desses fenômenos ocorrerem com alguma constância, e na maioria das vezes serem imperceptíveis, as altas magnitudes apresentadas requerem a necessidade de novas sondagens geofísicas investigativas.
O seguinte artigo versa sobre zonas propensas a terremotos, a estabilidade geológica no Brasil e a opinião de especialistas a respeito das possíveis causas da reativação das antigas falhas e fraturas que desencadearam os terremotos locais.
Zonas propensas a terremotos
Os grandes terremotos globais estão associados a regiões geológicas de convergências de placas tectônicas, a exemplo da Cordilheira dos Andes. No artigo intitulado O dinâmico e jovem ciclo geológico da Cordilheira Andina, é demonstrada a interconexão dos eventos geológicos regionais oriundos dos choques de placas tectônicas.
Os eventos tectônicos, a exemplo dos abalos sísmicos e tsunamis, vulcanismos e formação de cadeias de montanhas (orogênese), estão interligados a estes processos.
A Terra é composta por várias placas tectônicas e que estão em lento e constante movimento (deriva continental) sobre uma região plástica do manto superior conhecida como astenosfera. Quando estas placas litosféricas entram em rota de colisão, promovem estes eventos (Figura 1).
Os focos sísmicos (hipocentros) dos terremotos nestas zonas de subducção, geralmente são profundos. Os abalos cujos focos são rasos, normalmente estão associados a atividades vulcânicas.
Quando a crosta terrestre é submetida a elevadas pressões, ocorrem rupturas frágeis ou semi-frágeis com imediata liberação de grande quantidade de energia, ocasionando um terremoto. No momento em que a capacidade de resistência e plasticidade das camadas rochosas são excedidas, são fomentados falhamentos e fraturas estruturais.
Esta energia liberada pelo movimento de estruturas rochosas de grandes dimensões, transforma-se então em energia térmica, vibracional e sonora. A depender da magnitude das ondas sísmicas, podem ser perceptíveis na superfície.
Estabilidade geológica do território brasileiro
O Brasil está situado em uma zona tectonicamente estável, no meio da placa Sulamericana. Nesta região geológica não ocorrem os grandes eventos dinâmicos globais que proporcionam significativos abalos sísmicos e orogenia. Os locais suscetíveis a abalos estão muito distantes, no extremo ocidental do continente, nas regiões do Peru e Chile (Figura 2).
Normalmente, as falhas geológicas se constituem em locais proximais às colisões entre duas placas tectônicas. A existência de antigas falhas, todavia, proporciona pequenos abalos sísmicos em zonas continentais internas e estáveis.
A maior falha brasileira, é a falha de Samambaia, no interior do Rio Grande do Norte. Ela apresenta 38 km de extensão e 4 km de largura. As atividades sísmicas no entorno dessa falha são constantes. O terremoto de maior magnitude na região ocorreu em 1986, cujos maiores tremores da série de eventos atingiram 4,3 e 4,4 na escala Richter.
A terra tremeu na Bahia
Os terremotos que ocorreram recentemente na Bahia estão atrelados a movimentos de grandes blocos rochosos relacionados a antigas falhas. No nordeste brasileiro, e também na Bahia, existem diversos fragmentos rochosos antigos que estão suscetíveis a atividades sísmicas locais.
De acordo com a rede sismográfica mundial o abalo de maior magnitude, de 4,6 na escala Richter, que atingiu o Recôncavo e o Baixo Sul baiano no dia 30/08/2020, apresentou um foco sísmico (hipocentro) com rasa profundidade, de cerca de 10 km.
Em função da profundidade do hipocentro em relação à superfície, cujo principal epicentro é a cidade de Mutuípe e redondezas, a percepção foi significativa em várias cidades e até em alguns bairros da capital Salvador.
Este foco sísmico está localizado na Bacia do Recôncavo. Região que contêm antigas falhas geológicas e fraturas que algumas vezes apresentam movimentos de acomodação de blocos e proporcionam pequenos sismos, cujos regulares registros remontam há mais de 100 anos.
Ativação de antigas falhas
A alta magnitude medida nos tremores de terra recentes, para os padrões geológicos do território brasileiro, despertam a necessidade de realização de pesquisas e monitoramentos regionais pelo Serviço Geológico do Brasil.
Apesar do distante hipocentro, não está descartada a possibilidade de recentes registros de tremor na dorsal Meso Atlântica terem reativado as antigas falhas do Recôncavo por reflexo da propagação das ondas sísmicas.
O professor e pesquisador Telésforo Marques, do IGEO-UFBA, aventa a hipótese que durante a formação da Bacia do Recôncavo e da abertura do Atlântico, por volta de 145 milhões de anos atrás, ocorreram estiramentos em rochas do arcabouço geológico onde localizam-se os focos sísmicos.
Os tremores baianos ocorrem em rochas do tipo metamórficas do embasamento geológico, conhecidas como granulitos, cuja consolidação ocorreu na era paleoproterozoica (2,5 a 1,6 bilhões de anos).
O pesquisador supracitado propõe que a heterogeneidade das rochas contribuiu para que ocorressem diferentes taxas de estiramentos. Deste modo, em rochas mais estiradas – e de crosta continental mais fina – a astenosfera geraria um stress com tensor voltado para cima (sentido da crosta) e a pressão litostática um stress em direção ao manto.
Esses campos de esforços divergentes poderiam contribuir para movimentar as falhas antigas, causando os tremores no nosso estado, na área sismogênica da bacia do Recôncavo.
A rasa profundidade e a inexistência de atividades vulcânicas locais permitem a inferência de que a série dos atuais tremores de terra no Recôncavo e Baixo Sul baiano estão conectadas à movimentação de antigos blocos geológicos falhados. Contudo, é necessária uma investigação geofísica mais apurada para o levantamento das reais circunstâncias.
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