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A ocupação territorial da Chapada Diamantina

A ocupação territorial da Chapada Diamantina

A procura de metais e pedras preciosas, a abertura de novos caminhos, e o combate e invasão das terras indígenas foram as principais motivações para a ocupação territorial da Chapada Diamantina. Os primeiros habitantes eram de várias tribos originárias, a exemplo dos Maracás, Tupinaés, Payayás e os Jês.

Guerreando tribos diversas, tangendo o gado e avançando interior adentro, os colonos abriram veredas rumo ao grande sertão. Por um lado, seguindo o curso do rio Paraguaçu. Em outra frente, seguindo a costa norte baiana, até alcançarem as margens esquerda e direita do rio São Francisco.

Este texto compõe a série de artigos relacionados aos diamantes da Chapada Diamantina. Os demais tópicos são: 1 – Os Diamantes e Seus Mistérios na Chapada Diamantina; 2 – Histórico da Exploração na Chapada dos Diamantes; 3 – A evolução geológica da Chapada Diamantina; 4 – Chapada Dimantina Sempre Viva!; e 5 – A Revolução Industrial e os diamantes da Chapada.

Desbravamento do sertão brasileiro

No período do Brasil colonial, destacam-se como principais incentivos aos exploradores para o desbravamento do sertão e penetração para o interior:

  • a conquista de novas terras;
  • o combate ao indígena – empecilho aos interesses lusitanos;
  • a necessidade de abertura de estradas em direção ao norte; e
  • a procura de metais e pedras preciosas imprimidas pelas entradas.

A busca de novos caminhos rumo ao norte, por via terrestre ou fluvial, foi estimulada em decorrência de inadequações da navegação marítima. A existência de padrões eólicos incipientes em determinadas regiões do litoral nordestino prejudicava a navegação por mar.

Dessa maneira novos territórios foram incorporados. Em associação com a expansão da pecuária, extensas regiões foram gradativamente ocupadas, a exemplo dos atuais estados do Piauí e do Maranhão.

O processo de escravização da mão-de-obra indígena também contribuiu para o desbravamento do sertão. O comércio envolvendo a captura e apresamento do nativo foi intenso.

Nesse contexto, muitas entradas e bandeiras de caça ao índio foram organizadas com a finalidade de prear indígenas, colaborando com a expansão das fronteiras brasileiras.

Primeiros habitantes da Chapada Diamantina

As expedições empreendidas no século XVI, denominadas entradas baianas, foram as responsáveis pela expansão territorial do estado da Bahia rumo ao sertão.

A campanha que provavelmente alcançou pela primeira vez a Chapada Diamantina foi a liderada por Vasco Rodrigues de Caldas. Essa entrada continha uma centúria de homens.

Em 1561 subiu o rio Paraguaçu, chegando à região da atual cidade de Andaraí. Regressaram ao litoral após terem sido combatidos e expulsos pelos Tupinaés (TAVARES, 2001).

Os indígenas que habitavam o vale do rio Paraguaçu e serra do Sincorá antes da chegada do europeu explorador, eram os Maracás e os Payayás. Estes índios tinham como vizinhos ao sul o grupo indígena Camacã. O Rio de Contas era o limite territorial entre as tribos.

Os Maracás, provavelmente da etnia Pataxó ou Cariri, eram guerreiros resistentes e reagiam com violência à chegada de estranhos ao seu território. Habitavam a região entre o rio de Contas e o Paraguaçu. Suas terras possivelmente estendiam-se até as serras de Juazeiro e Caetité.

O sertanejo é conhecido como forte e resistente às intempéries naturais e opressões. Traços possivelmente herdados dos impávidos indígenas que habitavam o sertão.

A ocupação territorial da Chapada Diamantina
Os povos Indígenas Payayás, que dominaram, entre os séculos XVI e XIX, o vale do Rio Paraguaçu e região de Morro do Chapéu e Jacobina, resistiram e não foram exterminados! Ainda habitam terras na região de Utinga – território de identidade Chapada Diamantina. (Reprodução: Índios Payayá 8Ano)

Colonização da Serra do Sincorá e do alto Paraguaçu

O processo de colonização e ocupação territorial da Chapada Diamantina remonta ao início do século XVIII. Os fatores determinantes foram a expansão agropecuária no Vale do Rio São Francisco e a descoberta de ouro nas nascentes do rio de Contas, Paramirim e Itapicuru.

Na segunda metade do século XVII, todavia, bandeirantes paulistas foram contratados para atuar no estado baiano com o intuito de guerrear os índios Cariris. Eram os chamados sertanistas de contrato.

Entre estes se destaca a entrada de Estevão Ribeiro Baião Parente. Por solicitação governamental, para socorrer a Bahia e proteger o povo do Recôncavo, organizou-se uma das maiores diligências de sertanistas paulistas para o combate a valentes indígenas.

Resistência dos silvícolas

Este grupo bandeirante, a partir de 1671, partiu para duradouros combates no interior baiano. Apesar das dificuldades, e de encontrar grande e brava resistência, os sertanistas atacaram e dizimaram os Jês da serra do Orobó.

Os tenazes índios Maracás, também foram ferozmente guerreados. Somente sucumbiram em função da superioridade financeiro-militar dos invasores lusitanos.

As terras usurpadas dos silvícolas foram divididas segundo o sistema de sesmarias. Essas regiões, inicialmente foram ocupadas nas cabeceiras do Jequiriçá e do Jacuípe.

Depois calhou o povoamento do sertão de Maracás e serra do Orobó, e posteriormente entre os rios Paraguaçu e de Contas, alcançando-se rapidamente as terras do Sincorá e da Chapada Diamantina.

Pessoas de várias localidades migraram atraídas por novas perspectivas na região, incrementando a povoação. Antes dos ciclos do ouro e diamantes, a pecuária extensiva foi implantada, e, gradativamente produziu modificações no meio ambiente.

A ocupação territorial da Chapada Diamantina
Remanescentes de mata estacional decidual em formações rochosas na região de Jussiape – Ba. (Foto reprodução: Will Assunção/JUP)

Contudo, apesar da ocupação proveniente do oeste se expandir na área da serra do Sincorá, com a presença de criadores de gado e roceiros, o uso da terra, até o início do século XVIII, não foi significativo.

Ciclos de mineração

A partir dos ciclos minerários ocorreu a consolidação da ocupação e povoamento da Chapada Diamantina. Tanto o circuito do ouro, na região de Rio de Contas, como o circuito do diamante, fomentaram o surgimento e florescimento de cidades e vilas.

A descoberta do ouro no sul da Chapada, no rio de Contas, aproximadamente no ano de 1710, potencializou o povoamento da região, e a agropecuária foi substituída pela mineração como principal atividade econômica.

Essa transição cíclica é de fundamental importância para o crescimento das vilas e cidades. A partir desse instante, iniciou-se um novo modo de exploração e transformação da natureza local decorrente da ação antrópica.

A história da ocupação territorial da esotérica Chapada Diamantina é repleta de massacres de indígenas, invasões e desmatamentos. Esses foram os registros do primeiro ato colonizador na região.

O ciclo de apropriação dos recursos naturais, proporcionou o adensamento populacional e a consolidação dos municípios. Entretanto, colaborou com a exaustão do meio ambiente e acirrou as discrepâncias sócio-econômicas regionais.

Referências

BORGES, Ricardo. Degradação ambiental e poluição dos rios do Parque Nacional da Chapada Diamantina por atividades garimpeiras – consequências sócio-econômicas e ambientais. Universidade Federal da Bahia – Mestrado em Economia Ambiental. UFBA. Salvador, 2005.

FUNCH, Roy. O Parque Nacional da Chapada Diamantina e as Lavras Diamantinas. Base Cartográfica Digital do Estado da Bahia. Produzido pela
SEI/IBGE/SRH, 2004.

MATHIAS, Herculano G.; GUERRA, Lauryston; CARVALHO, Afonso Celso V.; ALVES, Therezinha M. História do Brasil, Vol. 1. Bloch Editores. Rio de Janeiro, 1972.

MELLO, João Manuel C. de. O Capitalismo Tardio. 9ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1994.

SAMPAIO, Deomar. Diamantes e carbonados do alto Rio Paraguaçu: geologia e potencialidade econômica. Salvador: Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, 1994.

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP: Salvador, Ba: EDUFBA, 2001.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História do Brasil. São Paulo, Scipione, 1998.

Imagem da capa: belas águas e flora exuberante da Cachoeira do Ramalho em Andaraí – Chapada Diamantina-Ba (autor desconhecido).

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

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