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Lagos e vulcões da Patagônia Andina

Entre lagos e vulcões da Patagônia Andina

A Patagônia Andina apresenta belíssimos lagos glaciais e vulcões, impressionantes cadeias montanhosas e picos nevados. A região está inserida no círculo de fogo do pacífico, na fronteira sul do Chile com a Argentina.

Os arcos vulcânicos andinos se formaram em função do choque de placas tectônicas, gerando uma gama de eventos geológicos responsáveis pela formação de cordilheiras, imponentes vulcões, abalos sísmicos, maremotos e ricas mineralizações.

América Andina

A cordilheira dos Andes é a maior cadeia de montanhas do mundo em comprimento. Este sistema montanhoso contínuo localiza-se na costa ocidental da América do Sul, região também conhecida como América Andina.

Nos trechos mais largos chega a apresentar 160 km, do extremo leste ao oeste, e possui em torno de oito mil quilômetros de extensão, desde a Venezuela até a Patagônia (Figura 1).

Localização da cordilheira dos Andes na América do Sul
Localização da cordilheira dos Andes na América do Sul. (Fonte: Mundo Educação)

A altimetria média gira em torno de 4.000 metros e seu ponto culminante é o monte Aconcágua, com 6.962 metros de altitude.

Os lagos e vulcões da Patagônia Andina, estão inseridos na subdivisão da cordilheira dos Andes, conhecida como cordilheira Patagônica, que está localizada em altas latitudes sul, entre os paralelos 37º e 55º.

Localização e acesso

Essa região, entre lagos e vulcões da cordilheira patagônica, situa-se na fronteira Chile-Argentina. As principais cidades da área da descrição são:do lado chileno – Puerto Varas, Puerto Mont e Frutillar, na Província Llanquihue. Na Argentina: Villa La Angostura (Neuquén) e San Carlos de Bariloche – Rio Negro (Figura 2).

Os nomes da maioria dos acidentes geográficos regionais são originários do Mapuche. Grupo indígena que inicialmente povoou o centro sul do Chile e o sudoeste da Argentina.

Mapa da Patagônia com a área da descrição – polígono vermelho.
(National Geographic Society, 2004)

Como chegar:

Via Chilerota aérea: da capital Santiago até o aeroporto de Puerto Mont, a viagem dura 1 hora e 45 minutos. Rota terrestre: de Santiago até Puerto Varas, nas marges do Lago Llanquihue, a distância por via terrestre é de 1000 km.

Via Argentinarota aérea: da capital Buenos Aires, até o aeroporto de Bariloche, o voo dura cerca de 2 horas. Rota terrestre: partindo de Buenos Aires, percorre-se uma longa distância de 1600 km até chegar na patagônia com destino a Bariloche.

Puerto Varas (Chile) – Bariloche (Argentina): Rota terrestre – percorre-se 303 km entre as duas cidades, pela Ruta 215 e RN-40. A viagem é marcante, e dura cerca de cinco horas, com parada de fiscalização imigratória na divisa entre os países (Figura 3).

Entre lagos e vulcões da Patagônia Andina
Trecho rodoviário entre Puerto Varas (esquerda) a Bariloche (direita) – Ruta 215 e RN40. A seta laranja aponta o vulcão Puyehue. Visada NW. (Google Maps)

Relevo e clima na Cordilheira Patagônica

Relevo: A área apresenta relevo montanhoso, característico de zonas de cordilheiras, com presença de vales em “U” e lagos glaciais. Os topos são aguçados e escarpados, cobertos por neve e apresenta cristas pontiagudas (Figura 4).

Em Bariloche a altitude é de 893 metros acima do nível do mar. Já às margens do lago Llanquihue, do lado chileno, as cotas altimétricas são inferiores, por volta de 64 metros. O vulcão Osorno, cartão postal da região, tem elevação de 2.652 metros.

Clima: Na região de Bariloche, o verão é seco e o inverno apresenta frio rigoroso e com maior índice de precipitação. Ela está situada numa micro-zona climática do tipo temperado andino, e com vegetação de floresta temperada. Ao longo do ano, a temperatura varia de -5 °C a 22 °C. As frequentes nevascas do inverno se concentram na zona da cordilheira.

Em Puerto Varas e região, as temperaturas médias variam de 7 °C no inverno a 14 °C no verão, apresentando clima temperado.

Topos da Cordilheira Patagônica e vulcão Pontiagudo.
Cume do Cerro Catedral (2.404 m) – topos aguçados e cristas pontiagudas. A seta vermelha aponta o vulcão Puntiagudo. Visada SW.
(Imagem: Ricardo Borges)

Geologia dos Andes

A teoria da tectônica de placas explica a origem e formação da cadeia montanhosa da cordilheira dos Andes. Nas regiões onde acontece choque de placas ocorre formação de montanhas (orogênese), abalos sísmicos e vulcanismos. Todos esses eventos estão interconectados.

O surgimento da cordilheira andina é resultado da colisão entre placas tectônicas que movimentam-se em função da deriva continental. Elas são as placas oceânicas de Nazca, Juan Fernández e Antártica que se movem em direção à placa sul-americana (Figurs 5).

Lagos e vulcões da Patagônia Andina
Mapa dos arcos continentais andinos. A região do artigo insere-se na zona vulcânica sul.(Chiton magnificus – https://commons.wikimedia.org)

O jovem ciclo geológico que proporcionou a formação da cordilheira patagônica, conhecido como ciclo patagonides, remonta a era Mesozoica (251 a 65,5 Ma). A sua evolução ocorreu em diferentes estágios, nos períodos Jurássico (201,3 a 145 Ma) ao Cretáceo (145 a 66 Ma).

Nas regiões em que acontece o choque de placas ocorre o processo de subducção, com mergulho da placa de maior densidade sob a menos densa. No caso em tela, as placas oceânicas deslizam abaixo da placa continental sul-americana (Figura 6).

(Adaptação: Lapa – UFRR)

O magmatismo é intenso e de natureza diversificada neste tipo de zona convergente, variando da borda para o interior do continente. Esse fenômeno possibilita a formação de arcos de vulcões continentais e diferentes rochas vulcânicas e plutônicas (granitóides).

Em função do ângulo do mergulho da placa e com o acréscimo de profundidade, ocorre elevação da temperatura e desidratação do material da crosta subductada. Estes processos desencadearam a fusão parcial do manto litosférico dos Andes, com geração de magmas (Figura 7).

Lagos e vulccões da Patagônia Andina
Área de convergência de placas oceânicas e continentais com construção de arcos vulcânicos continentais. (Reprodução: Salamuni)

O intenso vulcanismo de arcos continentais nas margens ativas originou grande quantidade de edifícios ígneos com rochas extrusivas (vulcânicas). Entre elas encontramos um tipo de rocha característico dos Andes e típica de zonas de subducção, o andesito.

Lagos e vulcões da Patagônia Andina

O Chile é o país dos vulcões, com cerca de 2.900 edifícios vulcânicos catalogados. De acordo com o Programa Global de Vulcanismo, no holoceno 105 vulcões no Chile estiveram ativos. Contudo, estima-se que existam 90 vulcões em atividade no território chileno atualmente.

Na área em descrição, existem cinco importantes vulcões que são o Tronador e o Puntiagudo – extintos, o Calbulco, o Puyehue e o Osorno – em atividade (Figura 8).

Lagos e vulcões da Patagônia Andina
Visada oeste. Fonte: Google Maps

Na imagem acima quatro edifícios vulcânicos estão listados: 1 – o extratovulcão Cerro Tronador (seta laranja); 2 – o vulcão Osorno (seta lilás); 3 – o vulcão Calbuco (seta preta); 4 – o vulcão Puntiagudo (seta vermelha). A seta verde aponta o Lago Llanquihue.

Principais vulcões entre lagos da Patagônia

Vulcão Puyehue-Cordón Caulle (2.236 mts): Este complexo vulcânico está localizado próximo à fronteira com a Argentina, inserido no Parque Nacional Puyehue. Apresentou violenta erupção no ano de 2011 com ocorrência de sismos e longa cortina de fumaça e cinzas que afetou por um bom tempo toda a região, e penetrando o espaço aéreo brasileiro (slides 1).

Lagos e vulcões da Patagônia Andina

Vulcão Osorno (2.659 mts): ativo extratovulcão que assemelha-se ao Monte Fuji do Japão, e está localizado próximo ao lago Llanquihue. Ele está adormecido, e sua última erupção ocorreu em 1869. Sua lava se espraiou pela região com produção de basaltos e andesitos.

Vulcão Puntiagudo-Cordón Cenizo (2.493 mts): Este extinto andesito extratovulcão apresenta um proeminente pico pontiagudo, esculpido a partir da dissecação erosiva glacial. Localiza-se entre os lagos Rupanco e Todos Los Santos, na região de Los Lagos. Sua última erupção ocorreu em 1850.

Vulcão Calbuco (1.974 mts): localizado próximo a Puerto Varas e Puerto Mont, este andesito extratovulcão está entre os mais perigosos do Chile. Ele entrou em erupção de forma abrupta em 2015, após quase quatro décadas sem se manifestar. Mais de quatro mil pessoas foram evacuadas do entorno em função das cinzas expelidas (slides 2) .

Cerro Tronador (3.478 mts): é um imponente conjunto de estratovulcões, oriundo de lavas de características basalto-andesíticas, localizado na fronteira Chile-Argentina, a leste do lago Todo Los Santos.

O Monte Tronador é o mais proeminente deste complexo, e é coberto por geleiras do Pleistoceno (2,5 Ma a 11,5 mil anos), época do auge das atividades vulcânicas. É um dos roteiros geoturísticos mais bonitos e impressionantes da Patagônia. Lá encontra-se uma ativa geleira, o glaciar Ventisquero negro (Figura 9).

Lagos e vulcões da Patagônia Andina
O imponente extrato-vulcão Cerro Tronador – Divisa Chile-Argentina (Imagem: Ricardo Borges)

Lagos glaciais

Os lagos entre os vulcões na Patagônia Andina são de origem glacial. Foram formados a partir da ação geológica do gelo. Os característicos vales em forma de “U”, foram escavados em decorrência da erosão glacial oriunda de antigas glaciações.

As geleiras da Patagônia eram do tipo alpino, que apresentam acumulação de gelo em vales entre cadeias de montanhas. Após o encerramento dos períodos glaciais, e em função do derretimento do gelo acumulado nas cordilheiras, os lagos se formaram, a exemplo do Nahuel Huapi (Figura 10).

Lago Nahuel Huapi, em San Carlos de Bariloche
Famoso Lago Nahuel Huapi, em San Carlos de Bariloche – Argentina. (Imagem: Ricardo Borges)

Em função das propriedades de escoamento do gelo e da ação da gravidade, as geleiras apresentam movimentação. Essa grande massa de gelo tem grande poder erosivo, que ao deslizar pelas cordilheiras desagregou material das rochas.

Nos locais de menor inclinação, este material carreado acumulou-se, formando vários tipos de depósitos, conhecidos como morenas, que podem ser laterais ou frontais (subaquáticas).

O fundo dos vales tornaram-se planos, em função da erosão decorrente da presença do gelo, e do acúmulo das morenas. No decorrer do tempo geológico, a paisagem regional apresentou vales em forma de “U”.

Lagos e vulcões da Patagônia Andina
Lago Traful – Los Lagos, Neuquén – Argentina (Imagem: Ricardo Borges)

As cadeias de montanhas e vulcões patagônicos estão rodeados por muitos lagos, entre eles, no setor argentino: Nahuel Huapi, Gutiérrez, Falkner, Traful, Espejo, Mascardi, que vertem suas águas no sentido do Oceano Atlântico. No lado chileno temos os lagos Rupanto, Puyehue, Todos los Santos e Llanquihue (Figura 12).

Um dos interessantes roteiros geoturísticos, partindo de Bariloche, é conhecido como a rota dos sete lagos, que percorre um circuito que permite a apreciação de vários lagos.

Lago Llanquihue – 2º maior lago do Chile, visto a partir de Puerto Varas. Ao fundo, o ativo Vulcão Calbuco. (Imagem: Ricardo Borges)

Além dos lagos glaciais e vulcões de grande beleza cênica e valor natural, a Patagônia Andina apresenta impressionantes cadeias de montanhas e picos nevados. Entre eles o Cerro Catedral (movimentada estação de esqui) e o Cerro López (Figura 13).

Os recursos hídricos na região são fartos em consequência da proximidade dos Andes, que drenam os mananciais e lagos glaciais. A densa vegetação subtropical de altitude, os bosques, e toda rica geodiversidade encontram-se protegidos em razão da existência de diversos Parques Nacionais em ambos os países.

Cerro Catedral
Cume do Cerro Catedral (2.404 m) – Bariloche – Argentina (Imagem: Ricardo Borges)

Imagem da capa: violenta erupção do vulcão Puyehue em 2011, a partir do Lago Llanquihue . Destaque para o Vulcão Osorno à direita. (Reprodução: Travessia das Américas)

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

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