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As incríveis falésias do Nordeste brasileiro

As incríveis falésias do Nordeste brasileiro

As falésias do nordeste brasileiro integram coberturas sedimentares de um conjunto rochoso conhecido como Grupo Barreiras. Os incríveis cenários de algumas praias da região foram modelados em período geológico recente, a partir de processos erosivos, soerguimentos e retrabalhamento dos sedimentos deste complexo de rochas.

Ainda alvo de pesquisas e discussões, o Grupo Barreiras apresenta origem tanto continental, quanto marinha, em decorrência de grandes movimentos eustáticos que ocorreram no período Neogeno – época do Mioceno (entre 23 e 5,3 milhões de anos), que possibilitaram diferenciadas deposições.

É provável que as falésias tenham se constituído após os movimentos de regressões marinhas, e em função de mudanças climáticas. Os tabuleiros da costa atlântica nordestina se originaram em consequência de processos erosivos e de soerguimentos derivados de arqueamentos crustais.

Falésias do Grupo Barreiras no nordeste brasileiro

Quando os navegadores portugueses avistaram as terras sulamericanas, de longe observaram que em vários trechos relativamente isolados do litoral existiam encostas verticais que se assemelhavam a barreiras naturais. Estes paredões em forma de tabuleiros compõem as admiráveis falésias do nordeste brasileiro.

As falésias são acidentes geográficos representadas por encostas íngremes ou verticais, geralmente na linha de costa oceânica. Constituem-se de camadas sedimentares ou vulcano-sedimentares – a exemplo das falésias de Torres no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. No Brasil estão presentes em muitas zonas costeiras e embelezam muitas praias.

As falésias nordestinas representam bruscas interrupções na zona costeira dos extensos tabuleiros que se estendem em direção ao interior do continente, com acréscimo das cotas topográficas. As encostas íngremes caracterizam-se por serem ativas ou fósseis (Figura 1).

As incríveis falésias do nordeste brasileiro
Figura 1 – Processos erosivos marinhos e movimentos de massa em falésia ativa. A seta branca à direita sinaliza a presença de impregnações ferruginosas. Visada SE. Praia do Espelho, Trancoso – Porto Seguro, Ba

Essas falésias sedimentares estão inseridas no Grupo Barreiras. Um agrupamento de rochas que se estende, bordeando a linha costeira, desde o Amapá até o estado do Rio de Janeiro, apresentando ampla regularidade geomorfológica.

No Nordeste brasileiro as falésias são encontradas em vários trechos do litoral, com maior destaque: na costa do Ceará – praia do Morro Branco e Canoa Quebrada; na Bahia – praia do Espelho e Prado; em Alagoas – Praia do Carro Quebrado e Gunga; na Paraíba – Tambaba e Tabatinga; e no Rio Grande do Norte – Pipa (Figuras 2A, B, C e D).

As incríveis falésias do nordeste brasileiro
Figura 2A – Presença de cobertura vegetacional em falésias, denotando processo de inatividade. Praia de Tabatinga – Conde, Paraíba. (Imagem: Ricardo Borges)
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Figura 2B – Falésias na Praia do Espelho, Trancoso – Bahia. (Imagem: Ricardo Borges)
As incríveis falésias do nordeste brasileiro
Figura 2C – Falésias ativas na Praia do Morro Branco – Ceará. (Imagem: Ricardo Borges)
Belos monumentos, falésias e arenitos de praia compõem o cenário em Pipa – Tibau do Sul, RN

Evolução geológica do Grupo Barreiras e suas falésias

As principais hipóteses elaboradas por diversos autores para a deposição sedimentar do grupo Barreiras estão abaixo elencadas (MORAIS FILHO, 1997):

  • variações climáticas – com ação de intemperismo químico no embasamento, nos períodos de clima úmido, e desagregação mecânica e transporte por correntes fluviais, nos períodos de clima semi-árido;
  • eustásia e deposições oriundas de complexos de sistemas e cones aluviais, canais fluviais e planícies de marés;
  • progressivo soerguimento das áreas continentais, com abatimento das áreas litorâneas contíguas, ao longo da costa atlântica brasileira – bastante proeminentes na região Nordeste.

Baseado em Barbosa et al (2003) e Rosseti e Góes (2009), o Barreiras na região Nordeste, é descrito como uma cobertura sedimentar de arenitos continentais médios e grossos e arenitos conglomeráticos sobre depósitos de arenitos carbonáticos.

As similaridades estratigráficas e litológicas dos componentes de costa do Barreiras, nas falésias dos diversos estados nordestinos em que ocorrem os afloramentos, vem sendo identificadas por diversos pesquisadores (Figuras 3A, B e C).

As incríveis falésias do nordeste brasileiro
Figura 3A – Arenito conglomerático na Praia de Tambaba – Conde, Paraíba. (Imagem: Ricardo Borges)
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Figura 3B – Afloramentos em falésias com presença de arenitos de média granulação na Praia de Tabatinga – Conde, Paraíba. Visada NW. (Imagem: Ricardo Borges)
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Figura 3C – Afloramentos em falésias com sedimentação areno-argilosas na Praia de Tabatinga – Conde, Paraíba. Visada NW. (Imagem: Ricardo Borges)

De acordo com Villas Boas (1997) “O Grupo Barreiras constitui uma cobertura sedimentar terrígena continental, de idade pliocênica, depositada por sistemas fluviais entrelaçados associados a leques aluviais”.

Todavia, conforme Arai (2006), a regularidade no modo de ocorrência e as características litológicas apresentadas pelo Barreiras são incompatíveis com origens continentais. Alguns autores identificaram a presença de fósseis marinhos e de restos de vegetação costeira nos seus estratos.

A investigação de bioturbações de organismos desprovidos de partes duras, e aplicação de estudos de vestígios icnofósseis nos tabuleiros costeiros nordestinos podem fornecer lúminas e colaborar para o desvendar da origem do Barreiras e de suas primorosas falésias.

Os arenitos apresentam boa capacidade de preservação fóssil, ampliando as possibilidade de conhecimento sobre paleoambientes de sedimentação.

Estágios de sedimentação do Barreiras

A sedimentação do grupo Barreiras se consolidou em dois estágios – inferior e superior, que podem estar associados a movimentos eustáticos marinhos que ocorreram no período Neogeno (Mioceno – 23 ma a 5,3 ma).

O primeiro evento deposicional, possivelmente associado à grande elevação eustática global do Mioceno, formou as rochas do Barreiras Inferior. Quando do rebaixamento do nível do mar, ocorreu exposição das áreas emersas, propiciando extenso evento erosivo (ARAI, 2006).

O segundo evento de sedimentação, ocasionou a consolidação do Barreiras superior, após novos avanços do mar sobre o continente no Plioceno (4 a 5 ma).

  • Para maiores informações sobre as falésias de Pipa-RN e região, consultar o artigo: Erosão costeira nas falésias da praia de Pipa.
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Referências

ARAI, M. A Grande Elevação Eustática do Mioceno e Sua Influência na Origem do Grupo Barreiras. Revista do Instituto de Geociências – USP. Disponível on-line no endereço www.igc.usp.br/geologiausp – 1 – Geol. USP Sér. Cient., São Paulo, v. 6, n. 2, p. 1-6, 2006.

BARBOSA, J. A., SOUZA, E. M., LIMA FILHO, M .F., NEUMANN, V. H. A estratigrafia da Bacia Paraíba: uma reconsideração. Estudos Geológicos, Recife, 13: 89-108. 2003.

BOTELHO, Sasha K. e LIMA, Carlos C. Uchôa. Riscos geológicos associados aos movimentos de massa nas falésias da Costa do Descobrimento, Bahia. 16º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental. 2019.

FURRIER, Max. Caracterização geomorfológica e do meio físico da Folha João Pessoa – 1:100.000. 213f Tese (Douturado). Departamento de Geografia, FFLCH, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007.

GONZÁLES, Oriana I. Rojas e LIMA, Carlos C. Uchôa. Modelagem espacial da neotectônica na costa do descobrimento, sul do estado da Bahia. Revista Brasileira de Geomorfologiav. 22, nº 2, 2021.

LEMOS, Diego O. Análise de fácies da Formação Barreiras, nas regiões de Apeúcastanhal e Outeiro-Belém (PA). Instituto de Geociências-UFPA. Bélem, 2013.

MORAIS FILHO, João R. C. Formações superficiais cenozoicas. CPRM, Capítulo 3, 1997.

ROSSETTI, Dilce e GÓES, Ana. Marine influence in the Barreiras Formation, State of Alagoas, northeastern Brazil. Earth Science. 2009

VILLAS-BOAS, S. Geraldo. O Grupo Barreiras na região nordeste do Estado da Bahia: estratigrafia, sedimentologia e geologia ambiental – um modelo de gestão. Laboratório de Estudos Costeiros. CPGG, Universidade Federal da Bahia – UFBA. Salvador. Disponível em http://www.cpgg.ufba.br/lec/Barreiras.htm.

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

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