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Capitalismo, Estado e Crises Econômicas

Capitalismo, Estado e Crises Econômicas

A história do capitalismo e da economia moderna é marcada por ciclos econômicos, que apresentam períodos de expansão, recessão, graves crises e recuperação econômica. O entendimento deste processo é essencial para o adequado gerenciamento da atual hecatombe financeira mundial. A presença do estado em tempos de crises econômicas é crucial para a sobrevivência do capitalismo.

Ciclos econômicos

Os ciclos econômicos se definem como uma flutuação periódica e alternada da expansão e contração de toda atividade econômica de um país ou de um conjunto de países, seja ela industrial, comercial, ou agrícola, e do setor de serviços (SANDRONI, 2003).

O estudo dos ciclos econômicos está intrinsecamente conectado aos períodos de crises econômicas. A contínua e cíclica evolução de desenvolvimento econômico das nações, após o seu auge, tende a aportar em momentos de crises descontínuas e muitas vezes desastrosas.*

De forma sucinta, as fases inerentes aos ciclos econômicos compreendem:

1. expansão econômica; 2. recessão (pré-crise); 3. depressão (crise); e 4. recuperação econômica.

Expansão econômica

As expansões econômicas podem ser fomentadas por vários fatores, entre eles a ampliação técnica e inovações tecnológicas. No início do século XX, os avanços científicos, principalmente no setor de eletricidade, transportes e uso dos combustíveis fósseis, proporcionaram acumulação de capital e incremento da riqueza das nações.

Essa fase de inovações tecnológicas gerou períodos de crescimento econômico nas principais potências industriais, motivando uma corrida armamentista, que culminou na primeira grande guerra.

O auge cíclico ocorreu na década de 20 daquele século, com amplo desenvolvimento econômico, tanto para os países capitalistas, como também observado na URSS. O ciclo entrou em declínio e recessão a partir da Grande Depressão de 1929.

Na atualidade, a expansão técnica oriunda do florescimento da revolução digital, quinta onda de inovações, propiciou a expansão observada na primeira década do século XXI.

A prosperidade econômica mundial recente foi viabilizada pela redução de custos e aumento da velocidade dos sistemas informacionais, da ampliação da capacidade tecnológica e interligação virtual dos mercados financeiros mundiais. A fase cíclica de crise desse período, corresponde à crise financeira Sub-prime de 2008.

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Ondas de inovação
Ciclos de inovação – Gráfico que demonstra a influência das ondas de inovação tecnológica de Schumpeter (1939), em relação ao auge do pleno emprego e pico da expansão econômica (ZAMBALDE E ALVES, 2008)

Crises econômicas

As crises econômicas, conforme a economia clássica, podem ser derivadas da escassez súbita no abastecimento de bens e provocada por fenômenos naturais, a exemplo de epidemias (economias pré-capitalistas).

Já a teoria Marxista associou a crise ao conceito de mais-valia em função da crescente concentração do capital em detrimento de uma massa trabalhadora com aviltamento de renda. Estas distorções acarretariam inevitáveis e frequentes crises econômicas no sistema capitalista que no decorrer do tempo entraria em colapso.

Após o advento e consolidação do capitalismo financeiro, incluindo a atual etapa da internacionalização e expansão globalizada do capital dos países centrais, o modo de produção capitalista enfrentou duas grandes crises históricas e atualmente vivencia outra, de proporções ainda incomensuráveis.

As crises econômicas citadas são a Grande Depressão (crise da bolsa de valores de 1929), a crise do setor imobiliário norte americano (Sub-prime) de 2008 e a recente crise da pandemia do coronavírus (Covid-19).

A Grande Depressão de 1929

A crise financeira de 1929 teve profundas repercussões mundiais, e para contê-la foi necessário que os EUA alterassem a sua política econômica. O capitalismo liberal (total liberdade econômica) foi substituído pelo capitalismo monopolista (intervencionista), com o Estado assumindo a organização da vida econômica. Os democratas assumiram o poder, representados na presidência por Franklin Roosevelt, e adotaram nova política denominada de New Deal.

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A crise econômica de 1929 gerou grande depressão no capitalismo mundial, necessitando do auxílio do estado.
Manchete de jornal do período que retrata o pânico em Wall Street a partir da quebra das bolsas de valores (Foto: Flickr/Stream About)

Muitos analistas do período enxergaram essa nova política econômica como uma forma de aproximação do regime de economia planificada soviética, em função de algumas medidas de planejamento econômico estatal se assemelharem aos Planos Quinquenais da URSS de Stalin.

A doutrina político-econômica desenvolvida por Keynes (1936), conhecida como Keynesianismo, que sugeria a necessidade da mediação econômica do Estado para garantir o bem-estar da população, influenciou a elaboração do New Deal.

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Desemprego em massa assolou a economia norte americana e demais países capitalistas centrais.

Esta doutrina argumenta que o Estado deve se portar como um agente ativo contra a recessão e alta no desemprego. Os investimentos e gastos do governo, no decorrer do tempo, atenuariam os riscos de recessão e encaminhariam o sistema econômico para o pleno emprego.

Num período de aproximadamente dez anos após a nova politica econômica, os EUA consolidaram a sua recuperação. O sistema financeiro já estava saneado e o capitalismo norte-americano revigorado, com índices de crescimento semelhantes aos existentes anteriormente à crise de 1929.

A intervenção do estado em tempos de crises econômicas foi crucial para a sobrevivência do capitalismo. Esta forma de gestão estatal, associada ao capital privado, influenciou os países europeus, que adotaram políticas de bem-estar social, conhecidas como Welfare State, que proporcionaram o boom econômico observado antes da segunda grande guerra, bem como a restauração pós-guerra.

Crise Financeira de 2008

Essa crise teve uma peculiar característica por ter ocorrido em um mundo globalizado, com os mercados financeiros e de capitais conectados e entrelaçados, e 24 horas online.

Acredita-se que a sua origem esteja atrelada ao colapso das empresas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) as “.com”, que ocorreu em 2001, conhecida como estouro da “bolha da Internet“.

Após essa crise, objetivando estimular o reaquecimento da economia norte-americana, o FED (banco central dos EUA), adotou a manutenção de juros reduzidos e sistema bancário desregulamentado.

Este cenário, baseado em políticas econômicas neoliberais, com mercados livres, possibilitou a estagnação de 2008, que foi motivada pela concessão desenfreada de créditos imobiliários, e de empréstimos hipotecários de alto risco, com garantias quase inexistentes.

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A concessão de créditos imobiliários de alto risco no mercado imobiliário
desencadeou uma grave crise mundial. (Matson, St. Louis Post)

Muitos bancos mergulharam numa situação de insolvência. Semelhante a um efeito dominó, esses eventos se espalharam rapidamente nos mercados de capitais e financeiros de todo mundo, gerando graves consequências para a economia real de muitos países. Os preços das principais commodities internacionais, como ouro e ferro, despencaram.

A lenta recuperação econômica ocorreu a partir do saneamento de falhas na regulação do sistema financeiro estadunidense. Ela foi possibilitada por ajustes, intervenções e financiamento estatal para debelar o colapso e evitar a quebradeira de muitos bancos, financeiras e corretoras de imóveis.  O Tesouro norte americano liberou recursos na ordem dos US$ 700 bilhões, para a compra de títulos podres de crédito hipotecário.

Além dessa gigantesca injeção financeira estatal no setor bancário, ocorreu a estatização de empresas gigantescas de empréstimo pessoal e hipotecas como a Fannie Mae (Federal National Mortgage Association – FNMA). O tradicional banco de investimento Lehman Brothers pediu concordata. A Merrill Lynch foi vendida ao Bank of America.

Em outros países, para reparar os efeitos da depressão, e estimular a recuperação econômica, muitos governos adotaram medidas semelhantes às praticadas pelos EUA. Em mais um período de graves turbulências, O estado auxiliou os países de capitalismo neoliberal na contenção de crises econômicas.

Pandemia do coronavírus (Covid-19)

Tradicionalmente, em momentos de crise, os países capitalistas centrais se moldam e adotam medidas de caráter centralizador e com intervenção do Estado. Essas atitudes, historicamente tornaram-se necessárias para a continuidade do sistema e para equacionar as suas principais contradições sócio-econômicas, e geradores de pontos de estrangulamentos na economia.

Pra combater as mazelas geradas pela atual pandemia do Covid-19, urge a necessidade de releitura do modus operandi da atual abordagem neoliberal. Outro modelo, baseado nos exemplos históricos dos períodos de crises, demanda ser adotado pelos países.

O capitalismo necessita do estado para lidar com os tempos de crises econômicas. Para a implantação da recuperação econômica, é necessária uma forte atuação governamental. Autoridades européias já chegaram a cogitar que o velho continente necessitará de um novo Plano Marshall para viabilizar à reestruturação econômica.

A questão é saber de onde viria este financiamento, já que a atual locomotiva do mundo, os EUA, estão mergulhados em grave crise sanitária e financeira, em função do Covid-19.

Certamente, este momento em que o mundo é assolado por uma pandemia, proporcione profundas reflexões acerca das relações sociais e diplomáticas, além da interação humana com o meio ambiente e como ele se insere na natureza e utiliza os recursos naturais. 

É possível que a próxima onda de inovações tecnológicas (sexta onda), que poderá trazer um novo boom de crescimento econômico, seja baseada nas novas concepções da economia ecológica, na automação e nanotecnologias, a partir da propagação do uso de energias sustentáveis, da utilização racional dos recursos renováveis e não renováveis e em função da evolução dos meios de transporte e combustíveis.

Referências

ARRUDA, José Jobson de Andrade. História Moderna e Contemporânea. Editora Ática, 18ª Edição. São Paulo, 1985.

DENIS, Henri. História do Pensamento Econômico. Editora Livros Horizontes. Lisboa, 1990.

KEYNES, John Maynard. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Editora Saraiva. São Paulo, 2012.

PINTO, Tales. O New Deal. História do Mundo. Disponível em: <https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/o-new-deal.htm>. Acessado em 19/04/2020.

REICH, Robert. We Might Be Heading for a Crash as Bad as 1929. Newsweek, 2018. Disponível em: <https://www.newsweek.com/robert-reich-we-might-be-heading-crash-bad-1929-opinion-1101869>. Acessado em 19/04/2020

SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. Editora Best Seller, 11ª Edição. São Paulo, 2003.

SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Editora Unesp. São Paulo, 2017.

ZAMBALDE, A. L.; ALVES, R. M. Gestão do conhecimento, tecnologia e inovação. Lavras: UFLA/FAEPE, 2008.

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

11 thoughts to “Capitalismo, Estado e Crises Econômicas”

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