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Mudanças climáticas e extinção em massa no Permiano

Mudanças climáticas extremas geraram a maior extinção em massa da Terra!

A extinção em massa ocorrida por volta de 252 milhões de anos atrás, entre os períodos Permiano-Triássico, foi a mais letal da história natural terrestre. Dizimou aproximadamente 95% da vida existente no planeta. As principais hipóteses atestam que essa extinção foi ocasionada por severas mudanças climáticas, com aumento de temperatura do mar.

Este artigo discorre sobre a probabilidade da liberação do metano do fundo marinho (arma de clatrato), associada a atividades vulcânicas intensas, ter engatilhado infernais eventos fomentadores da “grande agonia” que marcou o fim da vida antiga (Era Paleozóica).

No final do Permiano o planeta ainda estava com suas massas continentais unificadas em um só supercontinente – o Pangeia. O pretérito e vasto oceano Pantalassa circundava o Pangeia, ocupando neste período quase 70% da superfície da Terra.

Metano e a hipótese da arma de clatrato

No fundo dos oceano, em proximidade aos continentes, existe uma grande quantidade de metano (CH4), sob a forma do composto de clatrato ou hidrato de metano. Considerado uma fonte energética do futuro, e objeto de pesquisas relacionadas a hidrocarbonetos não convencionais.

Na hipótese desse metano subitamente se liberar, o evento subsequente pode ocasionar graves consequências ambientais.

Conhecido também como gelo inflamável, os hidratos de metano ou clatratos são formados após a solidificação das moléculas de água, que desenvolvem uma estrutura do tipo “gaiola” ao redor de moléculas de metano (Figura 1).

O gás metano pode ter origem termogênica – gerado a grandes profundidades e elevadas temperaturas, a partir da transformação térmica da matéria orgânica; ou origem microbial – a partir de processos biológicos.

A formação do hidrato de metano ocorre quando o gás migra para uma zona considerada de estabilidade, que inclui condições específicas de temperatura e pressão, ocorrendo então reações exotérmicas que congelam a água em torno de uma molécula de metano, gerando o seu aprisionamento.

Os hidratos de metano formam-se em locais frios, com muita água e que tenham pressões relativamente altas. Futuramente, para que haja uma extração segura e sustentável do gás natural dessa fonte, será necessária uma avançada tecnologia.

A hipótese da arma de clatrato postula que nas fases de aquecimento global do ciclo terrestre, pode ocorrer elevação da temperatura média das águas oceânicas a certo ponto crítico que desencadeie a liberação das moléculas de gás metano existentes nos hidratos sólidos dispostos no fundo marinho.

Esse fenômeno pode proporcionar drásticas alterações ambientais no meio oceânico e na atmosfera, incrementando significativamente o efeito estufa.

Estima-se que esses processos podem ter acontecido no aquecimento do final do Permiano e no máximo térmico do paleoceno-Eoceno (55 Ma). Seja em função de intensas atividades vulcânicas ou por mudanças climáticas que gradativamente promoveram extinção em massa.

As inflamáveis bolhas gasosas do metano, no processo de ascensão à superfície, quando em contato com o oxigênio geram reações de combustão. Em contato com o ar atmosférico as reações de combustão proporcionam ainda mais explosões.

Esta situação explosiva, e a tendência de baixa concentração de oxigênio na água, pode ter sido fatal para a vida marinha do pretérito oceano Pantalassa, extinguindo 95% dos animais marinhos e 70% dos terrestres.

Os dois principais gases que incrementam o efeito estufa são o metano e o dióxido de carbono. O gás metano é bem mais eficiente na captura da radiação infravermelha refletida pela superfície terrestre. A sua liberação em grande quantidade na atmosfera pode desencadear um súbito acréscimo do aquecimento global.

Mudanças climáticas extremas geraram a maior extinção em massa da Terra!
Criação artistica em cenário catastrófico no Permiano. Helicoprion em destaque, ao lado peixe Menaspis. (Reprodução: Demis Lima)

Intensas atividades vulcânicas

Pesquisadores chineses e norte-americanos desenvolveram trabalhos, publicados no jornal Nature Communications, que demonstram que grandes erupções vulcânicas do passado podem ter desencadeado a grande extinção do Permiano-Triássico.

Provavelmente, essas atividades vulcânicas, que incluíram emissões gasosas e combustão de matéria orgânica, liberaram substancial quantidade de mercúrio na superfície terrestre.

Esse aumento foi detectado em vários locais ao redor do mundo. A datação dessas rochas com depósito de mercúrio ocorreu a partir de dentes fósseis dos conodontos, classe de vertebrados primitivos já extintos, semelhantes às atuais lampreias.

Estes vultuosos derrames de lavas aparentemente ocorreram nas províncias magmáticas siberianas. As erupções liberaram mercúrio em forma de vapor na atmosfera e espalharam gases do efeito estufa, gerando chuva ácida. O espalhamento do mercúrio ao redor do planeta pode ter ocorrido após as precipitações pluviais.

Estes eventos impulsionaram consideravelmente o acréscimo da temperatura da época e o superaquecimento global. As águas marinhas esquentadas, possivelmente estimularam a arma de clatrato, com liberação do metano, retroalimentando o sistema, com consequente alastramento da extinção em massa.

Viagem galáctica, mudanças climáticas e extinção em massa

Vale ressaltar que a relação entre mudanças climáticas e extinções em massa podem também estar conectadas a fenômenos astronômicos cíclicos de grande escala.

A passagem do sistema solar por regiões de diversificadas naturezas nos braços espirais da Via Láctea, durante sua viagem galáctica, pode fomentar cíclicas extinções em massa na Terra. Periodicamente este deslocamento exerce significativas influências climáticas nos planetas solares ao longo de milhões de anos.

O Sol realiza um duradouro movimento de translação em torno do núcleo da Via Láctea, que dura cerca de 250 milhões de anos. A extinção em massa do Permiano que dizimou 95% dos animais marinhos e 75% da vida do Pangeia aconteceu neste lapso de tempo.

Raios cósmicos e a passagem por densas nuvens interestelares, que apresentam variação de matéria e energia eletromagnética, exercem influências no campo magnético solar e dos planetas, gerando interferências climáticas.

A frequência de ocorrência de impactos de grandes bólidos na Terra também se associa à viagem galáctica do sistema solar. A existência de extinções em massa periódicas, como a que extinguiu os grandes répteis, muito provavelmente estão atreladas a estes eventos.

Imagem da capa: criação artística de Ntvtiko – https://www.deviantart.com/ntvtiko

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Referências

CIMM (CENTRO DE INFORMAÇÃO METAL MECÂNICA) – “Gelo inflamável” pode ser fonte de energia alternativa. Disponível em http://www.cimm.com.br/portal/noticia/exibir_noticia/5776-gelo-inflamvel-pode-ser-fonte-deenergia-alternativa.

DOE (US DEPARTMENT OF ENERGY) – Methane Hydrate – The Gas Resource of the Future. Disponível em http://fossil.energy.gov/programs/oilgas/hydrates/.

MACHADO, C.X., A importância do hidrato de gás como fonte de energia alternativa e como possível agente das mudanças climáticas, Dissertação de Mestrado em Geografia, Florianópolis, 2009

PEER (PARTNERSHIP FOR ENVIRONMENTAL EDUCATION AND RURAL HEALTH) – Ecosystems – Images. Texas A&M University. Disponível em http://peer.tamu.edu/curriculum_modules/ecosystems/Images/methane.hydrate.gif.

RAMPINO Michael R. Disc dark matter in the Galaxy and potential cycles of extraterrestrial impacts, mass extinctions and geological events. Monthly Notices of Royal Astronomical Society. MNRAS 448, 1816–1820. 2015

RANDALL L., REECE M. Dark Matter as a Trigger for Periodic Comet Impacts. Physical Review Letters. 112(16):161301. 2014. [Disponível em: https://doi.org/10.1103/PhysRevLett.112.161301].

Ricardo Borges

Economista, geólogo e músico autodidata. Trabalha com publicidade e consultoria em marketing digital. Criador de conteúdo e pesquisador nas áreas de geociências e astronomia.

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